Cortesia de arquivodaudecoimbra
Preâmbulo em torno da história da Imprensa e a sua conotação com Portugal.
«As artes tipográficas tornaram-se, logo a partir dos alvores da imprensa no século XV, tanto servidoras como «inimigas» da acção expansionista da Igreja. Por um lado, graças aos avanços registados nas artes tipográficas, que com Gutemberg haviam conhecido entre 1440 e 1450, a «descoberta» dos caracteres móveis, passaram-se a editar obras de carácter bíblico em profusão. Mas foi também graças a essa mesma imprensa que os inimigos da própria Igreja, os autores «hereges» por assim dizer, passaram também a ser divulgados sem limite.
Essa foi uma das primeiras razões porque, pare a Igreja, como sólido suporte do poder instituído, importava agir taxativamente nesse sentido. Impunha-se coagir aqueles autores, cujos métodos abusivos e prevaricadores, postos ao serviço da interpretação dos textos sagrados, punham a própria Igreja, e os seus dogmas, em risco. Era essa a função da censura, instituída em Portugal muito antes da implantação do Tribunal do Santo Ofício, e cuja acção já remonta, se não mesmo antes, a 1324, no final do reinado de D. Dinis.
Cortesia de paulocampos
Torna-se hoje por demais indiscutível, com efeito, segundo se depreende de abalizados estudos levados a cabo por Artur Anselmo ou Graça Almeida Rodrigues, que uma das motivações imediatas quer para a organização quer para o exercício censório, nasceu com a descoberta da imprensa por Gutemberg, entre l440 e 1450. Autores como Jorge Peixoto, José V. de Pina Martins e Artur Anselmo têm-se questionado em Portugal, e não só, quer sobre a data efectiva da implantação das primeiras oficinas tipográficas na Europa Central, quer sobre as primeiras que passaram a actuar em Portugal.
A data de 1436 tem hoje, realmente, de ser um tanto questionada quanto à «descoberta» gutemberguiana desse tipo de impressão. O termo «invenção» ou «descoberto» tem sido utilizado um tanto abusiva e erroneamente, desconhecendo-se, ignorando-se ou omitindo-se alguns processos que estiveram na sua base, designadamente na China.
A xilografia, ou processo de gravura em madeira para se reproduzirem os sinais da escrita, foi criada, paralelamente, tanto na China como na Europa Central, presumivelmente na região que hoje constitui a República Federal da Alemanha.
Cortesia de hirondino
Na China, com efeito, já no século X eram impressos, graças a esse processo, livros inteiros: «sobre um pedaço de madeira bem lisa e polida» aplicava-se uma folha escrita, com a tinta dos caracteres ainda fresca. Desta maneira os ideogramas ficavam reproduzidos ao contrário; em seguida, hábeis artífices cortavam a madeira, escavando-a, por forma a ficarem salientes apenas os traços deixados pela tinta. Sobre a forma assim obtida, «imprimiam-se então as folhas de papel».
Esta tese, a que mais defendemos, é a da criação paralela. Outra é a das inter-influências, ou aproximações, do mundo asiático e europeu. Ecos do processo asiático terão chegado à Alemanha, em consequência das movimentações de cavaleiros no período das cruzadas, por volta do século XII. São conhecidos deste período, já no Oriente, reproduções de pequenas gravuras, cartas de jogar, etc. Os artífices, para consumar estes seus trabalhos, procediam de forma a abrir os desenhos em madeira de buxo, «cobriam os traços de tinta fabricada com negro de fumo e óleo», imprimindo então o que lhes interessava. Tal era a técnica também então utilizada na Europa». In Manuel Cadafaz Matos, Para uma História da Imprensa e da Censura em Portugal nos Séculos XIV a XVI, Publicação do Arquivo da Universidade de Coimbra 1986.
(Continua)
Cortesia do Arquivo da Universidade de Coimbra/JDACT