Cortesia de votsfrancisco
As Portas da igreja de S. Francisco.
«As pessoas que visitam esta igreja apenas reparam na sua porta principal que dá para o largo de S. Francisco, outrora chamado «Carvalhas de S. Francisco». Talvez valha a pena dedicar esta «Agenda» a essa porta e a todas as outras que se abrem na igreja conventual.
Porta Principal.
Ladeada pelos dois contrafortes chanfrados que substituíram os pilares adoçados sacrificados pelo restauro dos anos 40 do século findo, está a porta principal da igreja, de estilo gótico joanino, sem tímpano. O extradorso do seu arco é guarnecido de três arquivoltas apoiadas em colunas de base ática, capitéis decorados e ábaco destacado, a que se soma um novo par de colunas que, no interior, emoldura a porta. Das arquivoltas, apenas a primeira e a segunda se apresentam ornamentadas:
- a mais ampla com uma fiada de grânulos, sobrevivência do românico, o que reforça a ideia de que pertenceu ao convento mandado demolir em 1322 por D. Dinis, ideia que António Lino subscreve, ao salientar as suas características mais antigas que as do corpo gótico,
- a segunda com uma franja de flores-de-lis.
Cortesia de votsfrancisco
No que se refere aos capitéis, diz Pedro Dias em «Á Arquitectura gótica portuguesa», que são toscos, de colunelos muito grossos, podendo ver-se ainda a série de meias-esferas a debruar toda a obra, numa clara manifestação da persistência do arco românico, o que parece confirma a teoria da sua antiguidade acima expressa.
A ornamentação dos capitéis é do maior interesse:
- quatro deles apresentam motivos vegetais, estilizados,
- outros dois são de difícil interpretação, vendo-se um, à direita, representando uma cabeça humana envolta em folhagem (?) e outro, à esquerda, mostrando, afrontados, dois monstros híbridos, com cabeça de símio e corpo de leão.
Os capitéis das colunas mais avançadas são historiados e representam, segundo se julga, cenas da vida de S. Francisco:
- à direita, o Santo apresenta-se pregando aos passarinhos, tendo ao pé uma ovelha, animal que o Santo Patriarca amava pela sua docilidade;
- à esquerda, o Santo cuida de um enfermo, talvez de um leproso, dada a importância que teve para a sua conversão o encontro com um destes doentes.
Os capitéis do portal foram estudados em profundidade por Maria Dolores Fraga Sampedro, em ensaio publicado na «Revista de Guimarães, vol. 104».
Cortesia de votsfrancisco
Ao fundo da Nave.
À direita, encontramos uma porta, habitualmente encerrada, que dá acesso através de uma escada para piso inferior do claustro. A mais antiga referência a esta porta data de 1692 e foi escrita pelo Padre Torquato Peixoto de Azevedo nas suas «Memórias ressuscitadas da antiga Guimarães». Nelas se lê, a páginas 344, que, por baixo do coro tem «uma porta que vae para o claustro». Umas décadas depois, em 1726, o bacharel Francisco Xavier da Serra Craesbeeck, que foi corregedor desta comarca, deixou escritas as suas «Memórias ressuscitadas da província de Entre-Douro-e-Minho», mas nelas nada acrescenta, limitando-se a dizer que, debaixo do coro, fronteira a uma porta que dava para uma devesa, estava outra, que vai para o claustro. «A Corografia Portugueza», do Padre António Carvalho da Costa, 1706, também se lhe refere mas nada adianta.
Mais elucidativo é o testemunho do Padre António José Ferreira Caldas, em «Guimarães: apontamentos para a sua história, 1881», Testemunha que havia o altar de S. Marcos, «que à entrada da porta principal ocupava à direita o vão dum antigo túmulo, que em 1501 pertencia a Lopo Vaz, ouvidor geral Entre Douro e Minho, e que está fechado ao nível da parede, forrada de azulejo, pág.319». In Francisco José Teixeira, Belmiro Jordão, V.O. T. de S. Francisco de Guimarães, Agenda Franciscana, Ano V, 1, 2006.
(Continua)
Cortesia de VOT de S. Francisco/JDACT