sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Fundação Oriente. Embaixada de D. João V de Portugal ao Imperador Yongheng, da China, 1725-1728: «Sem contarmos com algumas iniciativas lançadas de Macau ou de Goa podemos inventariar 5 importantes missões diplomáticas gizadas e decididas em Lisboa e oficialmente recebidas pela corte imperial como embaixadas, no limite que esta palavra assumiu no quadro do sistema tributário chinês»

Cortesia da foriente

«Até aos meados do século XIX, dada a escassez ou a simples inexistência de laços ou de relações de outro tipo, culturais, comerciais ou sociais, e ainda hoje, para o bem e para o mal, a história das relações do Ocidente com a China esgota-se muitas vezes nas dinâmicas e nas vicissitudes da história diplomática. Algumas vezes, como uma «história de proveito e exemplo», outras de modo menos feliz pela extrapolação generalizada que o mero «acidente», diplomático uma embaixada também pode constituir. Há, no entanto, missões diplomáticas que nada têm de acidental; missões cujo contexto é em extremo revelador de um relacionamento mais ou menos continuado, justificativo e explicativo dessa forma continuada de contacto entre estados.

Na história da diplomacia europeia na China dos séculos XVII e XVIII, se o caso da Inglaterra tem uma relevância muito relativa, quer pela época em que tem lugar, quer pelo contexto político que a justifica, o mesmo se não poderá dizer da Rússia, da Holanda e, particularmente, de Portugal. No último caso, por uma série variada de razões.
Em primeiro lugar, pelo número considerável de missões diplomáticas, a maior parte delas efectivamente classificada como «embaixadas» em forma, que, frustradas ou não, indiciam desde muito cedo o estilo que Portugal considerou adequado às suas relações com o império.


Cortesia de visaodopassado e ibrhema

Sem contarmos com algumas iniciativas de carácter regional lançadas de Macau ou de Goa podemos inventariar cinco importantes missões diplomáticas gizadas e decididas em Lisboa e (à excepção da última) oficialmente recebidas pela corte imperial como embaixadas, no limite que esta palavra assumiu no quadro do sistema tributário chinês: a embaixada de Tomé Pires, 1516;
  • a de Manuel de Saldanha, 1667;
  • a de Alexandre Metelo de Sousa e Meneses, 1725;
  • a de Francisco de Assis Pacheco de Sampaio, 1752;
  • a missão diplomática de D. Fr. Alexandre de Gouveia, bispo de Pequim, 1783.
Ainda que já meritoriamente sublinhada a importância dessa missão pelos trabalhos pioneiros de Eduardo Brasão e de João de Deus Ramos, o feliz acaso da descoberta de documentos que lhe são relativos nas Bibliotecas Apostólica do Vaticano e Nacional Central de Roma e, particularmente, na de Braga, onde se conserva o «processo» oficial da embaixada.

Ao buscar nas bibliotecas públicas de Roma documentos de interesse para a cultura lusitana por ocasião do congresso «L'epoca delle grandi scoperte geografiche. Problemi e metodologie della ricerca storico-letteraria della didattica e della divulgazione» (Mariagrazia Russo), encontrámos na Biblioteca Nazionale Centrale Vittorio Emanuele II de Roma (BNR) alguns manuscritos inéditos com interesse para o conhecimento das relações entre Portugal e a China no século XVIII; documentos relativos, em particular, ao regresso às terras sínicas do padre jesuíta António de Magalhães, enviado a Portugal pelo imperador Kangxi e à embaixada de Alexandre Metelo de Sousa e Meneses enviado do rei D. João V de Portugal ao imperador Yongzheng.

D. João V
Cortesia de wikipedia

Pesquisas sucessivas conduziram-me a desenvolver acerca deste tema uma mais atenta investigação na Biblioteca Apostólica Vaticana (BAV), onde estão conservados outros manuscritos inéditos em língua chinesa já citados pelo sinólogo Paul Pelliot. Posteriormente, em Portugal, tive a possibilidade de trabalhar em primeira mão no processo oficial da embaixada no Arquivo Histórico da Universidade do Minho de Braga (ADB).
O secretário do embaixador Alexandre Metelo, Francisco Xavier da Rua, afirmava no seu «Diário» que, enquanto o legado do rei português ia a Pequim, tinha sido entregue ao representante de D. João V «huma relação do successo, que teve o Muito Reverendo Antonio de Magalhães, quando chegou á Corte» e, na lista dos objectos pertencentes ao padre jesuíta António de Magalhães, conservada manuscrita na Biblioteca Pública de Évora (Évora), aparecem «dous livros para memoria».

Até hoje existiam da embaixada de Metelo muitos relatórios, cartas, papéis avulsos, em original e cópia, mas destes documentos respeitantes ao padre inaciano não se possuía rasto. De entre os textos que aqui se transcrevem aparecem dois trechos ligados exactamente a esta fase de regresso do padre jesuíta ao Império do Meio». In Mariagrazia Russo, Fundação Oriente, Embaixada de D. João V de Portugal ao Imperador Yongheng, da China, 1725-1728, António V. Saldanha, 2005, ISBN 972-785-083-9.

Cortesia de Fundação Oriente/JDACT