Sobre a Busca das Índias
«(…) A 24de abril de 1459, Stefano
Trevisano levou para Portugal o mapa-mundo de Fra Mauro, cuja
dispendiosa realização se arrastou por um período longo, estando documentada
por pagamentos efectuados entre 8 de Fevereiro de 1457 e 24 de Abril de 1459.Na
carta de quitação passada a João Fernandes Silveira a 3 de Fevereiro de 1462 registou-se que este pagou trinta ducados e três quartos aos
pintores que pintaram o mapa-mundo em Veneza, não tendo o resultado do
trabalho sido considerado muito satisfatório, como se verifica pela alegação de
que: e isto por se não perder o que já
em ele fora feito. O mapa-mundo
de Fra Mauro terá sido visto pelo infante Henrique nesse ano de 1459 em Sagres ou Lagos, pois foi por
aí que então andou, sabendo-se ao cerro que a 20 e 23 de Fevereiro e a 6 de
Agosto estava em Sagres e a 22 de Junho em Lagos. Este monumento cartográfico, entretanto perdido, poderia ser a enorme e bem feita carta cosmográfica dourada,
que foi calculado ter 14 palmos de diâmetro, cerca de três
metros, tal como o descreveu Jerónimo Münzer em finais de Novembro de 1494, depois de o ter admirado no Paço
da Alcáçova do castelo de São Jorge em Lisboa. Este mapa foi mandado copiar
pelas autoridades venezianas a Fra
Mauro, tendo ficado concluído antes de20 de Outubro de 1459,quando o frade está já, dado como
morto, conservando-se com quase dois metros de diâmetro (196x193 cm) em Veneza
na Biblioteca Nazionale Marciana, n.º inv. 706 773, registando-se no seu
verso a data de 26 de Agosto de 1460,
que corresponderá à do seu emolduramento.
O pedido de um mapa feito pelos portugueses a Fra Mauro resultaria da circunstância de Veneza ser um dos
locais mais adequados para obter uma imagem o mais actualizada possível do Oriente
e da África Oriental, pois era um centro de informações das Índias que chegavam
à Europa, quer fossem das Baixas
do Preste João quer da Alta,
de onde vinham as especiarias que enriqueciam os mercadores italianos e eram em
1474 os bens mencionados por Toscanelli
como sendo os que interessavam os portugueses nessa altura e já em 1459.
Recorde-se que desde 1454 e 1455 a documentação oficial portuguesa
e a do Vaticano expressavam a busca
das Índias e dos índios pelos portugueses, expressões que se iriam
manter nas décadas seguintes. Até à elaboração do mapa de Fra Mauro o Oriente era conhecido em Portugal de acordo com
o livro de Marco Polo, trazido de Veneza em 1428 pelo infante Pedro: as formas traçadas na
Geografia de Cláudio Ptolomeu e alguns registos da cartografia catalã, a
partir da qual se desenvolvera a cartografia portuguesa desde que o infante
Henrique para cá mandara vir em data incerta um mestre Jacome
de Maiorca. Este cartógrafo poderia conhecer os dados registados no
famoso atlas que em 1375 foi traçado
pelo maiorquino Abraão Cresques,
no qual já se haviam incluído informações de Marco Polo».
In José Manuel Garcia, D. João II vs Colombo, Duas Estratégias
divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila do Conde, ISBN
978-989-554-912-2.
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