quinta-feira, 6 de junho de 2013

Duas Estratégias Divergentes na Busca das Índias. D. João II vs Colombo. José M. Garcia. «… hipótese de explicação para a pausa dos Descobrimentos que se verificou entre 1456 e 1460, pois foi apenas neste último ano que se registou o reatamento das explorações que levaram Pedro de Sintra à serra Leoa…»

Recolha da pimenta. Iluminura de 1410-1412 do livro Marco Polo
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Sobre a Busca das Índias
«(…) Tendo em conta os elementos que até aqui fomos apontando verificamos que os portugueses liderados pelo infante Henrique ao realizarem o projecto dos Descobrimentos começaram a desejar não apenas que as caravelas substituíssem as caravanas no comércio do ouro da África Ocidental mas também a querer traçar uma rota marítima que pudesse substituir a tradicional rota do Levante no comércio das especiarias orientais. Esta noção deduz-se não apenas do fundamento que levou à encomenda em 1456 do mapa de Fra Mauro, acabado a 24 de Abril de 1459, mas também ao teor das discussões sobre problemas geográficos travadas em Julho de 1459 em Florença com Toscanelli.
Os contactos estabelecidos pelos portugueses com sábios e mercadores italianos desde 1454 revelam o empenho em alargar os seus horizontes sobre a nebulosa geografia oriental, certamente por quererem contrapô-la à da costa da Guiné, que as suas caravelas estavam então a contornar, tendo em 1460 chegado à Serra Leoa, onde começa o golfo da Guiné e a costa africana segue para oriente. A propósito de documentação de 1459 podemos ainda evocar ter sido em Sintra que a 27 de Agosto Afonso V confirmou uma carta feita em Sagres a 6 de Agosto por Henrique em que este expressava a vontade de acrescentar a Pêro Correia, fidalgo da sua casa, que casou com uma filha de Perestrelo, pedindo ao rei para confirmar ao referido Pêro Correia a venda da capitania de Porto Santo de acordo com a carta que o infante já havia escrito em Lagos a 17 de Maio de 1458.
Mal sabiam então estas personalidades que dali a uns vinte anos, cerca de 1479, uma outra filha de Bartolomeu Perestrelo viria a casar com o genovês (?) Colombo e que este pouco tempo depois começou a sonhar com a ida às Índias procuradas pelos portugueses naquele ano de 1459, cuja localização o infante tentaria entender no mapa de Fra Mauro. O infante Henrique teria então confrontado o seu conteúdo com os mapas que os seus homens faziam e mandou continuar os Descobrimentos, que desde 1456 teriam estado suspensos. Talvez nos possamos perguntar se desde este ano o infante ficara à espera que lhe entregassem o mapa que então encomendara a Fra Mauro, para depois decidir o que fazer, e que só depois de este lhe ter sido entregue é que se decidiu a retomar o processo dos Descobrimentos em 1460. As datas referidas poderão dar consistência a esta hipótese de explicação para a pausa dos Descobrimentos que se verificou entre 1456 e 1460, pois foi apenas neste último ano que se registou o reatamento das explorações que levaram Pedro de Sintra à serra Leoa e Diogo Gomes com António de Noli ao arquipélago de Cabo Verde.

Retrato do rei João II. ‘Livro dos Copos’

Tenhamos em conta que a referida suspensão poderia corresponder a uma situação equiparável à ocorrida desde 1488, quando após a passagem do Sudeste de África para chegar ao Índico por Bartolomeu Dias se verificou que nos anos seguintes João II não retomou as viagens de descobrimento. Aquela que poderá ser a principal razão para esta paragem, após o ritmo firme dos Descobrimentos que se processou entre 1482 e 1488, poderá residir da circunstância do rei ter ficado à espera de informações de Pêro da Covilhã, que não lhe chegaram». In José Manuel Garcia, D. João II vs Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.

Cortesia de Quidnovi/JDACT