«(…) No mesmo âmbito são de
destacar ainda as revistas Era Nova
(Lisboa, 1880-1881), dirigida mais uma vez por Teófilo Braga com
a colaboração de Teixeira Bastos, e a Revista
de Estudos Livres (Lisboa 1883), dirigida por Teófilo Braga,
Teixeira Bastos, Sílvio Romero, Américo Brasiliense e Carlos Koseritz. Esta
revista, embora de duração efémera, deve ser assinalada do ponto de vista das
relações culturais luso-brasileiras, pois nela colaboraram elementos destacados
da filosofia brasileira da época, com destaque para Tobias Barreto, que
aí publicou, em três fascículos, um importante estudo sobre a literatura
clássica alemã, para além de Sílvio Romero e Clóvis Bevilacqua. Entre os
colaboradores portugueses da Revista
de Estudos Livres importa nomear Teófilo Braga, Teixeira Bastos,
Moniz Barreto, Júlio de Matos e Oliveira Martins. Por seu turno, reflectindo as
preocupações crescentes pelo problema da educação, situa-se a Revista de Educação e Ensino (1885-1896),
dirigida por Ferreira Deusdado, publicada semanalmente em Lisboa. Nela se encontram, de forma irregular, textos relevantes no
âmbito da filosofia da educação, nomeadamente de Antero de Quental. A
segunda metade do século XIX em Portugal conheceu uma enorme profusão de
publicações periódicas entre jornais e revistas, muitas vezes mais vocacionadas
para o propagandismo crítico e de intervenção política ou para o plano
literário, do que propriamente para a reflexão filosófica. Não significa isso
que nelas se não possa encontrar, embora de forma irregular, artigos e estudos
marcantes no campo da filosofia, assinados nomeadamente por Antero
de Quental e Oliveira Martins entre outros, à
semelhança do que sucederá, já no período republicano, com Leonardo Coimbra.
Registe-se, neste caso e para o século XIX, periódicos como O Fósforo, a Revista de Portugal, dirigida
por Eça
de Queirós ou ainda A
Província, fundada e dirigida por Oliveira Martins.
Entrando já na presente
centúria emerge destacada a revista A
Águia (cinco séries, 1910-1932), fundada e dirigida por Teixeira
de Pascoaes e inspirada pelos intelectuais reunidos em torno da
sociedade portuense A Renascença
Portuguesa. Embora dando expressão a tendências plurais, corporizou, a
partir da segunda série, o movimento poético c filosófico do saudosismo. Contou, entre os seus
colaboradores, com os vultos mais eminentes da cultura portuguesa da época, destacando-se,
para além de Pascoaes, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Raul Proença,
Sampaio Bruno, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Mário Beirão, António
Correia de Oliveira e ainda António Sérgio, este último como voz
crítica e dissonante perante o saudosismo de Pascoaes, acabando por concretizar
essa discordância na fundação, em 1918,
da revista Pela Grei. Durante
a década de 20, A Águia esteve
estreitamente ligada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
A citada revista fundada por António Sérgio, de que saíram sete números
(1918-1919),
segue uma linha de pedagogismo e
reformismo social de evidente coordenada ética. Com efeito, para o seu
director, a grei não se entende como
o somatório das gentes mas como o aspecto moral que dela faz um todo com
sentimentos, ideias e aspirações comuns, e daí uma atenção permanente perante
os problemas colectivos, muito para
além da mera política partidária em que se degladiava o regime republicano.
Criar, acima dos partidos, uma força moral na sociedade portuguesa, estruturar
uma opinião pública e uma consciência de
Grei, tal foi o objectivo perseguido pela revista. Daí os vários artigos
dedicados à articulação entre opinião
pública e democracia, à análise
da situação moral e social do país,
complementados com estudos pormenorizados sobre a nossa evolução no âmbito da
economia e da demografia.
Esta segunda década da I
República verá ainda a publicação de um título de duração breve, a revista Dyonisos (1912-1928),
de inspiração coimbrã e dirigida por Aarão Lacerda e João Lebre Lima.
Contou com a participação de vultos proeminentes da nossa cultura filosófica.
Refiram-se, a título indicativo, os artigos de Mendes Correia sobre teoria do conhecimento, os trabalhos
de Silva Gaio sobre a educação clássica,
de Paulo Merêa sobre filosofia do direito ou ainda de Agostinho da Silva sobre
O. Spengler.
Refira-se, para a segunda década do século XX, o aparecimento da Nação Portuguesa (Lisboa,
1914
e seguintes), ligada ao movimento integralista e dirigida por António Sardinha
e Manuel Múrias». In Pedro
Calafate, Estado da Questão, Revistas Filosóficas em Portugal, Philosophia
2, Lisboa, 1993.
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