sábado, 2 de novembro de 2013

Estado da Questão. Revistas Filosóficas em Portugal. Pedro Calafate. «A segunda metade do século XIX em Portugal conheceu uma enorme profusão de publicações periódicas entre jornais e revistas, muitas vezes mais vocacionadas para o propagandismo crítico e de intervenção política ou para o plano literário»

Cortesia de wikipedia

«(…) No mesmo âmbito são de destacar ainda as revistas Era Nova (Lisboa, 1880-1881), dirigida mais uma vez por Teófilo Braga com a colaboração de Teixeira Bastos, e a Revista de Estudos Livres (Lisboa 1883), dirigida por Teófilo Braga, Teixeira Bastos, Sílvio Romero, Américo Brasiliense e Carlos Koseritz. Esta revista, embora de duração efémera, deve ser assinalada do ponto de vista das relações culturais luso-brasileiras, pois nela colaboraram elementos destacados da filosofia brasileira da época, com destaque para Tobias Barreto, que aí publicou, em três fascículos, um importante estudo sobre a literatura clássica alemã, para além de Sílvio Romero e Clóvis Bevilacqua. Entre os colaboradores portugueses da Revista de Estudos Livres importa nomear Teófilo Braga, Teixeira Bastos, Moniz Barreto, Júlio de Matos e Oliveira Martins. Por seu turno, reflectindo as preocupações crescentes pelo problema da educação, situa-se a Revista de Educação e Ensino (1885-1896), dirigida por Ferreira Deusdado, publicada semanalmente em Lisboa. Nela se encontram, de forma irregular, textos relevantes no âmbito da filosofia da educação, nomeadamente de Antero de Quental. A segunda metade do século XIX em Portugal conheceu uma enorme profusão de publicações periódicas entre jornais e revistas, muitas vezes mais vocacionadas para o propagandismo crítico e de intervenção política ou para o plano literário, do que propriamente para a reflexão filosófica. Não significa isso que nelas se não possa encontrar, embora de forma irregular, artigos e estudos marcantes no campo da filosofia, assinados nomeadamente por Antero de Quental e Oliveira Martins entre outros, à semelhança do que sucederá, já no período republicano, com Leonardo Coimbra. Registe-se, neste caso e para o século XIX, periódicos como O Fósforo, a Revista de Portugal, dirigida por Eça de Queirós ou ainda A Província, fundada e dirigida por Oliveira Martins.
Entrando já na presente centúria emerge destacada a revista A Águia (cinco séries, 1910-1932), fundada e dirigida por Teixeira de Pascoaes e inspirada pelos intelectuais reunidos em torno da sociedade portuense A Renascença Portuguesa. Embora dando expressão a tendências plurais, corporizou, a partir da segunda série, o movimento poético c filosófico do saudosismo. Contou, entre os seus colaboradores, com os vultos mais eminentes da cultura portuguesa da época, destacando-se, para além de Pascoaes, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Raul Proença, Sampaio Bruno, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Mário Beirão, António Correia de Oliveira e ainda António Sérgio, este último como voz crítica e dissonante perante o saudosismo de Pascoaes, acabando por concretizar essa discordância na fundação, em 1918, da revista Pela Grei. Durante a década de 20, A Águia esteve estreitamente ligada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
A citada revista fundada por António Sérgio, de que saíram sete números (1918-1919), segue uma linha de pedagogismo e reformismo social de evidente coordenada ética. Com efeito, para o seu director, a grei não se entende como o somatório das gentes mas como o aspecto moral que dela faz um todo com sentimentos, ideias e aspirações comuns, e daí uma atenção permanente perante os problemas colectivos, muito para além da mera política partidária em que se degladiava o regime republicano. Criar, acima dos partidos, uma força moral na sociedade portuguesa, estruturar uma opinião pública e uma consciência de Grei, tal foi o objectivo perseguido pela revista. Daí os vários artigos dedicados à articulação entre opinião pública e democracia, à análise da situação moral e social do país, complementados com estudos pormenorizados sobre a nossa evolução no âmbito da economia e da demografia.
Esta segunda década da I República verá ainda a publicação de um título de duração breve, a revista Dyonisos (1912-1928), de inspiração coimbrã e dirigida por Aarão Lacerda e João Lebre Lima. Contou com a participação de vultos proeminentes da nossa cultura filosófica. Refiram-se, a título indicativo, os artigos de Mendes Correia sobre teoria do conhecimento, os trabalhos de Silva Gaio sobre a educação clássica, de Paulo Merêa sobre filosofia do direito ou ainda de Agostinho da Silva sobre O. Spengler.
Refira-se, para a segunda década do século XX, o aparecimento da Nação Portuguesa (Lisboa, 1914 e seguintes), ligada ao movimento integralista e dirigida por António Sardinha e Manuel Múrias». In Pedro Calafate, Estado da Questão, Revistas Filosóficas em Portugal, Philosophia 2, Lisboa, 1993.

Cortesia de Philosophica/JDACT