sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Amantes dos Reis de Portugal. Paula Lourenço (coord), Ana C. Pereira e Joana Troni. «Foi também durante o seu reinado que as questões entre Braga e Compostela e os intermináveis conflitos entre a Sé de Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz tiveram lugar»

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Um rei com um temperamento inconstante
«(...) Depois de ver reconhecida a sua dignidade régia por bula papal, Sancho I teve que lidar com complicadas situações ao longo do seu reinado, desde maus anos agrícolas às sucessivas crises de fome, peste e, claro, as guerras. De um lado estava a questão da divisão das Hispânias pelos herdeiros de Afonso VII e, do outro, a ameaça do império almóada, sempre presente. Foi um rei empenhado em todos os assuntos do seu reino. Conhecia bem os problemas, as necessidades e a realidade do seu país. De facto, estivera, durante tantos anos, à frente dos seus destinos e convivera de perto, pelo menos desde 1169, com os altos oficiais do reino. Povoou as terras de fronteira para as manter e mostrar a soberania portuguesa e entregou a sua defesa e conquista dos territórios em seu redor às ordens militares.
Foi também durante o seu reinado que as questões entre Braga e Compostela e os intermináveis conflitos entre a Sé de Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz tiveram lugar. Várias vezes, na sequência destes problemas, o monarca foi excomungado e o seu reino interditado. Sancho I tinha um temperamento inconstante, que se foi revelando com maior intensidade à medida que ia envelhecendo. Acessos de raiva eram frequentes, indo ao ponto de perpetrar grandes vinganças, como se viu em Silves. Conquistou Silves após um cerco que durou dois meses, com a ajuda dos cruzados que tinham arribado ao reino. Não foi um processo pacífico, pois os cruzados, ocupando a cidade, fecharam as portas para que nenhum muçulmano a pudesse abandonar e dedicarem-se ao saque e espoliação de bens e pessoas. Recusaram-se a dar a Sancho I a sua parte em Silves, o domínio da própria cidade e a posse dos aprovisionamentos em víveres. O monarca, enfurecendo-se, entrou na cidade e expulsou à força os cruzados. A amargura chegaria mais tarde, com a perda de Silves, o que teve um impacto grande. Não podia perder mais território do que aquele que lhe fora legado por seu pai. A partir daqui, era importante investir em pactos de aliança e políticas matrimoniais para minorar as hipóteses do reacender da guerra entre os reis cristãos peninsulares.

As amantes
Algumas descrições, não coevas, referem que Sancho I era de estatura média e que tinha o rosto grande, a boca grossa e grande, os olhos pretos grandes, cabelo de cor castanho-escura quase preta e tinha barba. Afinal, em nada parecido com seu progenitor, que era alto, de rosto perfeito com olhos e cabelo castanho-claros. Era um homem que gostava da caça, de correr touros e do convívio com os cortesãos. Nos serões passados na corte não faltava o vinho, os poemas e os jograis. E, claro, as mulheres. Sancho I foi pai de 19 filhos. A sua fertilidade enquanto progenitor foi excepcional, da relação com a sua mulher, dona Dulce, teve 11 filhos. Para além de dona Dulce, a mulher legítima, são-lhe conhecidas duas amantes: dona Maria Pais Ribeira, a conhecida Ribeirinha, e dona Maria Aires Fornelos, senhora da nobreza média. Delas teve também uma significativa prole. A primeira foi mãe de seis filhos, ao passo que a segunda gerou dois. Ao que parece, estas ligações amorosas tiveram lugar após a morte da rainha, ou seja, entre 1198 e 1211., mas foram, provavelmente, também concomitantes. Estas amigas do rei tinham o seu lugar na corte e acompanhavam-no para onde se deslocava». In Paula Lourenço (coord), Ana Cristina Pereira, Joana Troni, Amantes dos Reis de Portugal, 2008, Esfera dos Livros, Lisboa, 2011, ISBN 978-989-626-136-8.

Cortesia ELivros/JDACT