jdact
1150-1330.
O povoamento urbano
«(…)
Embora menos intensa, a actividade de criação urbana entre 1150 e o começo do
século XIV não foi inexistente nas regiões setentrionais do reino, e em
especial, precocemente, no condado de Flandres, onde prossegue o dinamismo
demográfico económico e urbano do período anterior. No início do reinado do
conde Filipe da Alsácia (1168-1191), associado ao seu pai desde 1157, novas
cidades, como Gravelines (1163), Nieuport, Damme (1180), Biervliet (1183),
Mardick e Dunkerque (c. 1183), portos situados às margens de estuários na proximidade
da costa, testemunham uma política urbana do conde. Gravelines, por exemplo, fundada
em 1163, desenvolveu-se rapidamente a partir de 1180. Esse aumento da
superfície urbana, que é em grande parte uma superfície construída, provém do
afluxo dos homens. Tais homens vêm do campo e, em sua maioria, do campo próximo.
O século XIII, século do início do recenseamento, é também o século do
surgimento dos nomes próprios, nomes de família, nomes de ruas. É sobretudo
estudando os patronímicos urbanos, dos quais um número considerável é
constituído pelo lugar de origem desses imigrados, em geral recentes, que se
pode esboçar a história do povoamento das cidades. A distância entre lugar de
origem e a cidade de imigração depende evidentemente da importância dessa
cidade, de sua actividade, de seu poder de atracção. No Forez, a cidadezinha de
Montbrison encontra, entre 1220 e 1260, 40% de seus imigrantes a menos de 10
km, 38% a uma distância entre 10 e 20 km, e apenas 3 famílias em cada 51 vêm
relativamente de longe, uma de Lyon, uma de Auvergne e uma provavelmente de France
(isto é, Ile-de-France no sentido amplo). Para o período 1260-1340, a atracção
da cidade aumenta: 4/5 dos imigrantes provêm de um raio já não de 20, mas de 30
km. Entre 1300 e 1349, dois terços dos recém-chegados provêm de um raio de 40
km e para cada período algumas famílias vieram de lugares cada vez mais
distantes (mesmo na Normandia e, no último período, da Itália e, talvez, da
Espanha). Para uma aglomeração foreziana mais modesta, Saint-Haon-le-Chatel, no
período 1252-1348, 78% dos imigrantes são originários de uma zona de 20 km em
torno da cidade e 75% são certamente de origem rural.
Para
uma grande cidade como Metz, um estudo pioneiro de Charles-Edmond Perrin em
1924 mostrou que os imigrantes do século XIII vieram essencialmente da região
lorena e mais particularmente da zona de Metz, sobretudo das aldeias próximas.
Todavia algumas famílias patrícias conservavam em seu patronímico a lembrança
de uma origem remota: Estrasburgo, Colónia, Veneza, Troyes e Huy. Arras, como
Metz, recebe no século XIII o essencial de sua população de um raio de 40 km ao
redor da cidade. Para Reims, o estudo bastante preciso de Pierre Desportes,
abrangendo os 600 nomes de lugares usados por famílias que figuram nas listas
feitas entre 1304 e 1328, mostra que 50% dessas famílias são originárias de
localidades situadas a menos de 3 léguas (cerca de 13 km) da cidade, 60% provêm
de menos de 30 km, 35% do restante é proveniente das Ardenas. A grande maioria
desses lugares de origem é constituída por aldeias. O caso de La Rochelle, para
a qual possuímos uma lista dos nomes dos lugares de origem dos burgueses em
1224, é diferente. A atracção se exerce sobre a maior parte da França,
especialmente Flandres, Normandia, Bretanha, e sobre a Itália (Lombardia e Génova),
a Espanha (Santander, Pamplona, Saragoça) e a Inglaterra (Norwich, Londres,
Southampton). É verdade que se trata de um porto e de uma cidade cuja actividade
comercial e financeira (ligada sobretudo à exportação do vinho) se acha então
em pleno desenvolvimento. Ressalta desses dados que no nível dos homens, em
primeiro lugar, os laços das cidades com a sua terra, seu meio geográfico, são
muito fortes e que a origem de sua população é sobretudo rural. Como essa
população, segundo veremos, é muito móvel, pode-se dizer que a cidade é povoada
em grande parte por camponeses recém-urbanizados. Insiste-se, e com razão, como
veremos, no carácter semi-rural das cidades medievais. A penetração dos campos
nas cidades faz-se inicialmente no nível dos homens. A França urbana medieval é
em grande parte uma França rural da cidade». In Jacques le Goff, O Apogeu da
Cidade Medieval, 1980, Livraria Martins Fontes Editora, 1989, 1992, ISBN
978-853-360-127-1.
Cortesia
de LMartinsFontesE/JDACT