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e wikipedia
«Numa época decisiva do primeiro
Renascimento, no mosteiro da Badia, situado no coração de Florença e então
dirigido pelo Abade D. Frei Gomes, natural de Lisboa, um artista português, Giovanni
di Gonsalvo ou João Gonçalves, executa um conjunto de pinturas a fresco sobre a
vida de S. Bento, considerado um dos momentos mais altos da pintura florentina
daqueles anos (1436-1439)». In Resumo
«Há
25 anos, constituíram para mim uma revelação os frescos de Giovanni di Gonsalvo,
João Gonçalves, pouco tempo antes recolocados no seu lugar de origem, depois de
trabalhosas operações de restauro. O tema parece-me adequado a esta homenagem a
um professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que abraçou a
Ordem que mais de perto segue o estilo de vida propagado por S. Bento, e
permite-me, ao mesmo tempo, reviver alguns momentos intensos da minha vida, no
coração da Toscana, em contacto com as obras de arte de uma época singular, que
as lições de mestres competentes e magnânimos como Carlo Ludovico Ragghianti, Luciano
Berti e Umberto Baldini me ajudaram a compreender. Remontam a essa época as
notas que serviram de base à elaboração deste trabalho.
Descendente
de uma família da pequena burguesia lisboeta, pois se aventa que o pai, Johan
Martinz, fosse notário, Gomez, ao terminar a primeira década de quatrocentos,
dirigiu-se a Pádua, para frequentar o curso de Direito, a pensar naturalmente
numa carreira brilhante, dentro da vida secular ou eclesiástica. Ainda não
tinha concluído o curso quando, em fins de 1412 ou princípio de 1413, bateu à
porta do mosteiro de Santa Justina, que então conhecia um período de renovação
que atraiu muitas vocações e se expandiu a outros mosteiros, entre eles o da
Badia, localizado no coração de Florença. Gomez deve ter feito a
profissão religiosa, ao terminar o ano de 1414. Dali a quatro anos, com o
título de Prior Claustral, aparecia à frente de dezasseis monges enviados com a
missão de renovar a Badia florentina, quase sem religiosos e enredada em graves
problemas económicos, motivados em grande parte pelos desvarios cometidos, por
ocasião do concílio de Constança, pelo último Abade, que deles se viria a
penitenciar exemplarmente. Após a morte deste, foi Gomez eleito Abade, em 1418,
iniciando então um período de importantes reformas. Em 1423, depois de ter
exercido as funções de Presidente da respectiva Congregação, frei Gomez
deslocou-se a Portugal, de onde regressaria no começo de 1426. Durante a sua
ausência registaram-se algumas perturbações na vida interna da Badia,
às quais em seguida pôs cobro. Em 1435 voltou a Portugal, onde permaneceu até 1437,
desta vez como núncio do papa junto do rei Duarte I.
O
mosteiro da Badia, com a principal entrada pela Via della Condotta, situava-se
(e situa-se) a poucas dezenas de metros do Palazzo Vecchio, sede do governo
florentino, e tinha nas vizinhanças, do outro lado da Piazza San Firenze, o
Bargello, onde residia o Podestà ou o magistrado que desempenhava as mais
altas funções na República florentina e depois o Bargello ou capitão da polícia,
como era designado no século XVI. Estava espartilhado pelas construções urbanas,
apertado no meio de outros edifícios e sem possibilidade de se expandir para os
lados.
O
Abade Gomez pôs em marcha uma série de obras destinadas a aumentar o espaço
destinado aos monges e aos seus hóspedes. Não podendo promover a expansão
horizontal do mosteiro, viu-se obrigado a fazê-lo crescer em altura, o que
exigiu a transformação de várias estruturas. A primeira obra empreendida terá
sido a do oratório destinado a servir o público, com fácil acesso a partir do
exterior. A partir de 1429, realizaram-se as obras do claustro inferior e do
refeitório. Seguiram-se as do claustro superior e do dormitório, entre 1434 e
1437, encontrando-se as da hospedaria nova, iniciadas em 1440, ainda na fase de
arranque quando Gomez, nomeado Geral dos Camaldulenses, teve de deixar a Badia.
A partir de 1431, o Abade Gomez comprou diversas boteghe instaladas à
volta do mosteiro, não só para alargar o espaço disponível mas também para libertar
os monges de vizinhos indesejáveis, e designadamente das vozearias e cantares
dos operários, assim como dos odores incómodos resultantes da laboração das
manufacturas pertencentes à Corporação da Arte della Lana e dos olhares
indiscretos. O claustro superior deve ter sido construído no decorrer de 1435 e
1436. Na primavera deste último ano estava em condições de receber a decoração
que o abade Gomez lhe destinara». In António M. Reis, O Claustro da Badia de
Florença, Museu Municipal de Viana do Castelo, Wikipedia.
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