As
Descobertas Portuguesas
«(…)
Fé, necessidade e ambição de riquezas, aventura, preparação científica dos
descobrimentos. Todos estes foram factores da obra da Expansão Portuguesa, mas
cada um deles tendo a sua medida e o seu lugar. Dominou o espírito de cruzada,
sendo esta a única resposta e bem explicativa que se pode dar ao espanto do
inglês Major perante a enormidade da obra realizada por um povo dum
escasso milhão de habitantes, ao serviço
de Deus. Hasteado o pavilhão da Cruz no Norte de África, iniciou-se
o desenrolar daquele caminho marítimo que os portugueses foram os primeiros a
sulcar. Começou em Ceuta e parou em Malaca, para ainda depois retomar alento e
encaminhar-se à China, ao Japão, às ilhas do imenso Pacífico. Madeira e Açores
foram os versos líricos daquela obra grandiosa que levava uma direcção segura,
pensada e estudada. O Brasil, um cântico de cores fortes e de beleza sem par.
Pretendíamos
atingir o Oriente contornando África, visto que a Europa estava barrada por
terra e lançarmo-nos no fojo muçulmano como raio exterminador. E os
portugueses, preparados na Escola de Sagres, sabiam bem que não cairiam
no erro de Colombo, que ao dirigir-se a Chipangu
e ao Cataio
de Polo esbarrava, sem o saber, com um novo continente que estava de permeio. O
Infante
Henrique preparara sabiamente a Descoberta, rodeado de
cartógrafos famosos, de matemáticos e de astrónomos de renome europeu, todos
bafejados pela sua fé ardente.
Em
Malaca soubemos da China, cujo nome já nos tinha chegado, nas próprias
viagens de Marco Polo, que fala do mar de Chin; no planisfério de Cantino,
datado dos fins de 1502, onde vem já escrito: terra de chins, e o próprio rei Manuel, em instruções para Diogo
Lopes Sequeira, ordenava-lhe que indagasse das terras dos Chijns. Depois
de Jorge Álvares, em 1513, ter cravado
em Tamão o primeiro padrão português em território da China, seguiu-se a
descoberta daqueles novos e estranhos horizontes.
Bordejámos
com sorte vária, por mares que ora eram lagos, logo encapelados pelos ventos do
tufão. Com os nativos daquele velhíssimo mundo, que para nós era bem novo e bem
diferente de tudo quanto os nossos olhos tinham visto ate aí, em longa
caminhada pela Terra, também nem sempre foram bonançosos os primeiros
contactos. Fixámo-nos depois nessa minúscula península a que chamámos Macau,
mesmo ali próximo da entrada do Império
do Meio, que era Cantão. Mas a obra portuguesa da ligação com a
imensidade do Extremo Oriente só se iniciava com a primeira leva missionária. E
então começámos a perguntar a nós próprios, na 1embrança sempre viva de Marco
Polo: - mas onde fica, afinal, o
Cataio?
Os
Missionários do Padroado Português no Extremo Oriente
E
por ser obra do serviço de Deos,
aberto o caminho com saber e bravura, por ele iam logo seguir os que deviam
levar a mensagem mais alta de Portugal. Mal terminado no Extremo Oriente o
período de Mendes Pinto, dava-se início ao glorioso capítulo missionário.
O primeiro contacto tivera o travo amargo duma mútua incompreensão. Era natural,
dois mundos tão diferentes que se enganaram por não se entenderem. Mas propriamente
a nossa obra não começa aí, mas depois, quando a Companhia de Jesus,
recentemente então formada, manda, a nosso desejo, os seus primeiros soldados
para a conquista espiritual daquele fim da Terra». In Eduardo Brazão, Em Demanda do
Cataio, A Viagem de Bento de Goes à China, 1603-1607, Gráfica Imperial, 2ª
edição, Lisboa 1969.
Cortesia
de Gráfica Imperial/JDACT