Asfalto
«Multidão
é chuvada
de óleo
explosão
dentes
à dentada
incessantes
os
gemidos dos amantes»
«Se
indago nas coisas sinais do futuro
quebrando
contra elas o espírito as asas
fico
sobre colunas
como
a massa aérea fantástica das casas
Suspensas
nos pilares sem um cansaço
sem
músculos em contracção
meditam
levantadas sobre o espaço
com
seis colunas suportando a solidão
São
novos seres nem homem nem montanha
cogumelos
de ferro de coragem
rectangulares
cúbicas quadradas
quem
sois ó seres suspensos na paisagem
Pirâmides
aquedutos
gigantescos
besouros que pousaram
ó
casas altas sois os novos frutos
que
as mãos sábias dos homens cultivaram
Estou
dividido entre a casa alta
e a
multidão que as ruas corre
quero
andar mas no pensar há qualquer falta
as
minhas pernas são colunas onde todo o esforço morre»
Poemas
de António Borges Coelho, in ‘Ao
Rés da Terra’
In António
Borges Coelho, Ao Rés da Terra, Editorial Caminho, (da Poesia), Lisboa, 2001,
ISBN 972-211-454-9.
Cortesia
de Caminho/JDACT