segunda-feira, 4 de abril de 2016

Nostalgia na Segunda. Poesia. A Voz de Brel. «… é já uma legenda da sua época e da sua geração. … e que na ressaca da contra-revolução silenciosa continuou a batalhar, não sem amargura…»

jdact

Cancão com lágrimas
«Eu canto para ti um mês de giestas
um mês de morte e crescimento ó meu amigo
como um cristal partindo-se plangente
no fundo da memória perturbada.

Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
e um coração poisado sobre a tua ausência
eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
em que os mortos amados batem à porta do poema.

Porque tu me disseste quem me dera em Lisboa
quem me dera em Maio. Depois morreste
com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve
que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.

Eu canto para ti Lisboa à tua espera
teu nome escrito com ternura sobre as águas
e o teu retrato em cada rua onde não passas
trazendo no sorriso a flor do mês de Maio.

Porque tu me disseste: quem me dera em Maio
porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol. Lisboa com lágrimas
Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve.

Eu canto para ti Lisboa à tua espera».

Capa negra rosa negra
«Capa negra, rosa negra
rosa negra sem roseira
abre-te bem nos meus ombros
como o vento na bandeira.

Abre-te bem nos meus ombros
vira as costas à saudade
capa negra rosa negra
bandeira de liberdade.

Eu sou livre como as aves
e passo a vida a cantar
coração que nasceu livre
não se pode acorrentar».

Pedro soldado
«Já lá vai Pedro Soldado
num barco da nossa armada
e leva o nome bordado
num saco cheio de nada
triste vai Pedro Soldado.

Branda rola não faz ninho
nas agulhas do pinheiro
não é Pedro marinheiro
nem no mar é seu caminho.

Nem anda a branca gaivota
pescando peixes em terra
nem é de Pedro essa rota
dos barcos que vão à guerra.

Onde não andas ceifando
já o campo se fez verde
e em cada hora se perde
cada hora que demora
Pedro no mar navegando.

Não é Pedro pescador
nem no mar vindimador
nem soldado vindimando
verde vinha vindimada
triste vai Pedro Soldado.

Já lá vai Pedro Soldado
num barco da nossa armada
deixa o nome bordado
e era Pedro Soldado.

Branda rola não faz ninho
nas agulhas do pinheiro
não é Pedro marinheiro
nem no mar é seu caminho.
deixa o nome bordado
e era Pedro Soldado».
Poemas de Manuel Alegre in “Trovas do vento que passa

Em memória do amigo Fernando José († 4/4/1992). Que estejas em paz.
Abraça o Filomeno e o Mateus. Eu vou ficando por cá…


ISBN 978-989-619-121-7
JDACT