domingo, 15 de maio de 2016

A Estátua do imperador Maximiliano. Pedro IV. Alexandre Borges. «Quando lhe extraíram o coração, e enviar, como relíquia, à Igreja da Lapa, no Porto, descobriram que o coração de Pedro Alcântara era maior do que o normal»


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«(…) Pedro Alcântara Bragança Bourbon, numa versão resumida do seu nome, via-se assim, aos 31 anos, numa posição insólita: tinha sido rei de Portugal e imperador do Brasil, recusara o trono da Grécia e o da Espanha; foi o soberano de milhões de homens e mulheres; poderia tê-lo sido de muitíssimos mais... E agora, não tinha nada. Não tinha trono. Não tinha pátria. Era pai duma rainha e de um imperador, mas não tinha sequer uma casa a que chamar sua. Bem, mas a História é generosa para homens como Pedro I do Brasil e IV de Portugal. Qualquer coisas neles parece atrair os acontecimentos e chamá-los, de novo, à fila da frente das revoluções. Como uma actualização dramática da infância, Pedro via-se forçado a defrontar o irmão. Miguel tinha traído todos os juramentos que fizera ao regressar de Viena; mandara prender, expatriar ou enforcar os opositores políticos e autoproclamara-se rei de Portugal, restaurando o absolutismo. Pedro regressa à Europa, deixa a mulher e a filha em segurança e embarca para a ilha Terceira, nos Açores. Aí, assume o comando dos liberais no exílio e organiza um exército.
Em Junho de 1832, desembarca no Norte do país e cerca o Porto. Tem início o último capítulo verdadeiramente sangrento da História de Portugal: a guerra civil de 1832-34. Irmão contra irmão, portugueses contra portugueses, a superioridade pende quase sempre para o lado de Pedro. A 26 de Maio de 1834, a paz é assinada na Convenção de Évora Monte. Miguel reconhece a derrota e parte para a Alemanha, onde morrerá 32 anos depois. Apesar de nunca ter abandonado totalmente as pretensões ao trono e declarar ter assinado a rendição sobre coacção, oferecerá ao irmão as suas jóias para ajudar a patrocinar a reconstrução do país após a guerra. A invulgar relação daqueles dois homens ficaria bem caracterizada no comentário comovido que o gesto então mereceu de Pedro: isto são mesmo coisas do mano Miguel... Esgotado, perdoado, demasiado vivido para alguém que ainda só contava 35 anos, Pedro, o Rei-Soldado, restaura o poder da Carta Constitucional e devolve à filha, dona Maria II, agora com 15 anos, o trono que o tio lhe usurpara. .Já não consegue sequer assistir à cerimónia da coroação. Acamado em Queluz, sofre do agravamento dos sintomas que se haviam revelado durante a guerra: dificuldades respiratórias, cansaço extremo. Redige o testamento, onde lega o seu coração à cidade do Porto, epicentro do movimento liberal. Quatro dias depois, morre o Libertador, rei de tudo e nada. A autópsia indica uma tuberculose como causa de morte. Quando lhe extraíram o coração, para o submeter a um tratamento de conservação e enviar, como relíquia, à Igreja da Lapa, no Porto, descobriram algo extraordinário: o coração de Pedro Alcântara Bragança Bourbon era maior do que o normal. Pensando bem, poucas coisas faziam tanto sentido.
A história de Maximiliano Habsburgo-Lorena conta-se mais depressa. Nascido em Viena a 6 de Julho de 1832, dois dias antes de Pedro IV desembarcar com o exército liberal no Pampelido e dar início à guerra civil portuguesa, era filho de Sofia de Baviera e talvez de seu marido, o arquiduque Francisco Carlos (levantou-se sempre a hipótese de o pai ser, na verdade, Napoleão II, o que faria de Maximiliano neto de Bonaparte). Cresceu, serviu na marinha e alcançou em Trieste a vitória sobre a Itália. Apaixonou-se por uma princesa, dona Maria Amélia, fez planos de casamento, mas a jovem morreu, inesperadamente, em 1853. Maximiliano nunca se recompôs e diz-se que o anel que usaria até ao fim dos seus dias continha no interior um pequeno tufo de cabelo da princesa desaparecida.
Mas a vida tinha de seguir. Quatro anos depois, Maximiliano casa com Carlota da Bélgica, aparentemente menos por amor e mais por necessidade financeira, já que usou o dote de casamento da mulher para pagar a dívida que contraíra na construção dum castelo em Trieste. Que planos havia trazido para a vida o arquiduque Max nunca saberemos bem; a pouco e pouco, o seu destino começou a ser conduzido mais pelos desejos de terceiros do que pelos seus. A pedido do sogro, parte para Milão, onde assume o controlo das possessões austro-húngaras naquele que é hoje território italiano. Sem talento ou vontade para a terra, vai perdendo domínios até ser afastado do posto pelo imperador e retirar-se com a mulher para o seu castelo. Depois, veio a sentença de morte... Convencido pelo imperador francês Napoleão III a fazer no México um império que competisse com a América anglo-saxónica, Maximiliano abdica dos seus títulos na Europa e parte para a utopia do outro lado do Atlântico. Confiante no apoio que recebia de França e da Santa Sé, desembarca em Veracruz em 1864, com o título de imperador, disposto a consolidar uma grande monarquia católica a partir do fascinante território de Maias e Astecas». In Alexandre Borges, Histórias Secretas de Reis Portugueses, Casa das Letras, Lisboa, 2012, ISBN 978-972-46-2131-9.

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