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Caracterização
«A variação
de uma 1íngua está intimamente associada ao percurso histórico-social dos seus falantes
e das comunidades em que estes se inserem. Assim, considerámos pertinente a apresentação
de alguns aspectos referentes à história, à demografia e à etnografia do
concelho em estudo. No que diz respeito à origem do topónimo Marvão, muito se tem
reflectido e teorizado, tendo surgido, até à data, diversas explicações, que a seguir
se apresentam.
Segundo
o padre Diogo Pereira Sotto Maior, em 1619,no Tratado da Cidade de Portalegre,
Marvão terá sido fundado pelos moradores de Medóbriga e não por mouros. A
este propósito, refere o autor duas lendas, encontrando-se numa delas uma
explicação para a denominação Marvão: quando Medóbriga foi conquistada e
destruída por Cássio Longino, a sua população viu-se forçada a fugir e a refugiar-se
nos rochedos onde actualmente se situa a sede do concelho. Ao subirem tão íngreme
encosta, os habitantes em fuga iam desfalecendo e caindo, dizendo uns para os
outros: maluão, maluão; e daqui mudado o l em r se chamou Maruão....
Segundo
um documento manuscrito do século XVIII, intitulado Anteguidades e Alguas Notabilidades da Villa de Castelo de Vide e seu Termo, conta-se que um capitão, chamado
Capitam Bidé, ao cercar a cidade de Arménia, que na altura se
chamava Medrobigua, os seus habitantes pediram-lhe três dias para tomar uma
decisão e, à traição, de noite, dirigiram-se ao monte em que hoje se situa Marvão.
Quando o capitão soube da fuga para tal sítio, simplesmente respondeu: ... deixaios
ir, que mal vão; querem dizer os traditores, que daqui se corrompeo a palavra;
donde agora se vem a chamar a Villa de Marvão, que esta naquelle mesmo sitio, e
se dis ser da propria gente, que fugio edificada. Ainda que apresente esta versão,
o autor deste manuscrito não concorda com ela. No seu ponto de vista, ... não
sedevia desta palavra tomar o nome a villa de Marvão; e paresse que o devia tomar
por currupção do nome da Cidade desamparada, que se chamava Mirobriga; ou Medobriga...
Possidónio
Laranjo Coelho veio, em 1982, apresentar uma explicação muito semelhante às referidas
anteriormente, marcada também por um valor pejorativo. Segundo este autor, no seio
do povo surgiu a justificação de que o nome Marvão
deriva de Mal Vão, expressão proferida
pelos habitantes do município quando se referiam aos prisioneiros de guerra e militares
que para lá iam desterrados, já que o monarca Fernando I declarou a vila couto de homisiados, para assim garantir
mais facilmente a defesa da fronteira e o povoamento durante o longo período de
guerra com Castela.
Augusto
Pinho Leal e, mais tarde, também Possidónio Laranjo Coelhos (baseado nele) apresentam
uma teoria diferente, defendendo que o topónimo tem a sua origem no nome de um cavaleiro
do Islão, senhor de Coimbra, Ibn Maruan
que, em 776, se refugiara no morro onde actualmente se situa a sede do
concelho. Adel Sidarus defende também que o topónimo Marvão terá origem mourisca
e explica-a fundamentadamente. No século X, o historiador cordovês Isa Ibn
Ahmad ar-Rázi, ao relatar as façanhas de Ibn Maruán e a sua dinastia, já se
reporta a este local como ...o Monte de Amaia, conhecido hoje por Amaia de Ibn
Maruán.... Nesse mesmo texto, surgem também outras designações, tais como; fortaleza
de Amaia, A sua [de Ibn Mauan] fortaleza de Amaia, Fortaleza de Amaia-o-Monte,
deixando o documento perceber que, de todas, a denominação que acabou por prevalecer
foi a de Amaia de Ibn Maruán, designação que evidencia o nome do seu
fundador em detrimento da sua importância enquanto ponto estratégico-militar. Ainda
de acordo com Adel Sidarus, o fundador de Marvão, Ibn Maruán, terá sido um nobre
de Mérida que se destacou no último quartel do século IX ... como rebelde e caudilho
muladi (autóctone islamizado). e, juntamente com a sua família, liderou a
contestação contra os emires de Córdoba. Depois de se ter refugiado na fortaleza
de Ammaia e de ter fugido para o norte de Portugal, regressou a Badajoz e, a partir
daí, tentou reconquistar o seu poderio político-militar. Assim, foi considerado
o fundador de Badajoz (em 875 d. C.) e também de Marvão (em 877 d. C.). Desde 1998
que em Badajoz se comemora a sua fundação, Almossassa, por Ibn Maruán. Por
influência do que aí se faz e em parceria, a partir de 2006, Marvão passou também
a festejar a sua fundação, no primeiro fim-de-semana de Outubro». In Teresa
Simão, O Falar de Marvão, Edições Colibri, Lisboa, 2011, ISBN
978-989-689-107-7.
Cortesia
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