Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) O seu armamento é arcaico,
mas esses egípcios batem-se como feras! Felizmente, os nossos carros e os nossos
cavalos dão-nos uma enorme superioridade. E depois, Majestade, não deveis
esquecer que matámos o seu chefe, Seken. Unicamente
graças ao espião que gangrena o inimigo, pensou Apopis, cujo
olhar torvo permanecia indecifrável. Onde está o cadáver de Seken? Os egípcios
conseguiram recuperá-lo, Majestade. É pena. De boa vontade o teria pendurado na
grande torre da cidadela. A Rainha Ah-hotep ficou ilesa? Infelizmente, sim, mas
é apenas uma mulher. Depois da morte do marido, só pensará em render-se. Os
restos do exército egípcio não tardarão a dispersar-se e destruí-los-emos.
Ah, eis a distracção!, exclamou o
Imperador. Um enorme touro de combate, olhos furiosos e cascos agressivos,
entrou na arena para onde foi lançado um homem nu e sem armas.
O general empalideceu. O infeliz
era o seu adjunto directo, que se batera corajosamente em Cusae. O jogo é tão
simples como divertido explicou o Imperador. O touro carrega sobre o seu adversário,
cuja única hipótese é agarrar nos
chifres e realizar um salto perigoso por cima do cachaço do monstro. Segundo o
pintor cretense Minos, que decora o nosso palácio, é um desporto muito em voga
no seu país. Graças a ele, as minhas pinturas são mais bonitas do que as de
Cnossos. Não és da mesma opinião? Oh, sim, Majestade! Repara... Aquele touro é
um verdadeiro mastodonte e tem mau carácter. De facto, o monstro não tardou a
precipitar-se sobre a sua vítima, que cometeu o erro de tentar fugir
voltando-lhe as costas. Os chifres cravaram-se nos rins do oficial hicso. O
touro projectou o moribundo no ar, espezinhou-o e espetou-lhe os chifres uma
segunda vez antes de soprar. Apopis fez uma careta de desagrado.
Aquele incapaz foi tão decepcionante na arena como no combate
afirmou. Um cobarde... Eis o que ele era. Mas a responsabilidade das nossas
derrotas não é da responsabilidade do seu superior? O general suava em grossas
bagas. Ninguém teria podido fazer melhor, Majestade, garanto-vos, eu... És um
imbecil, general. Em primeiro lugar, porque não soubeste prever esse ataque;
depois, porque os teus soldados foram vencidos em vários locais do território
egípcio e não se comportaram
como verdadeiros hicsos; finalmente, porque acreditas que o adversário está vencido.
Levanta-te. Tetanizado, o general obedeceu. O Imperador tirou da bainha a adaga com castão de ouro que
nunca o abandonava. Desce para o labirinto ou corto-te a goela. É a tua única
hipótese de obteres o meu perdão.
O olhar assassino de Apopis
dissipou as hesitações do oficial superior, que saltou para o labirinto e caiu
sobre os joelhos e as mãos. À primeira vista, o lugar nada tinha de perigoso. Era
composto por ziguezagues marcados por paliçadas, por vezes cobertas de verdura.
Era impossível perder-se: um único caminho, tortuoso, conduzia à saída. Por
altura da primeira paliçada, uma mancha de sangue chamou a atenção do general.
Sem reflectir demasiado, decidiu saltar, como se franqueasse um obstáculo
invisível. Foi a sua sorte, pois duas lâminas saltaram de cada lado,
roçando-lhe as plantas dos pés. O Imperador apreciou a façanha. Desde que
melhorara muito os diversos dispositivos do labirinto, poucos candidatos
ultrapassavam aquela primeira etapa. O general comportou-se da mesma maneira ao
sair do segundo ziguezague e foi esse o seu erro. Quando caiu no chão, este
fugiu-lhe debaixo dos pés e precipitou-se num lago onde dormitava um crocodilo
esfomeado. Os gritos do hicso não perturbaram nem o animal nem o Imperador, a
quem um servidor se apressou a trazer uma taça de bronze para lavar os dedos. Enquanto
os maxilares do crocodilo estalavam e tornavam a estalar, Apopis lavava as mãos».
In
Christian Jacq, A Rainha Liberdade, A Guerra das Coroas, ISBN 978-852-861-216-5,
Bertrand Editora, 2006, ISBN 978-972-251-281-7.
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