segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Silêncio Redondo. A Música da Cigarra penetra na Rocha. «A grajeia caiu no próprio chão que havia. Amarelo impossível, de trémulas mãos a grajeia saltou e no chão rolou, se arredondinhou. Cara de santinha, quase auréola tinha. Santa que tira a febre, não santa que a dá, cara de lua cheia, a grajeia ficou onde esteve (está?)»

jdact e wikipedia

In Memoriam de ATJ, JLT e MLAC

Se às vezes digo que as flores sorriem
se eu disser que os rios cantam,
não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
e cantos no correr dos rios…
(...)
Não concordo comigo mas absolvo-me,
porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza,
porque há homens que não percebem a sua linguagem,
por ela não ser linguagem nenhuma.

(...) Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso (…)
Poema de Alberto Caeiro (1888-1935)


 «O poeta não necessita de nomear as coisas. As suas palavras são árvores, nuvens, mar, pássaros... Não pássaros que vemos, mas pássaros que o poeta descreve com imagens, ritmos, símbolos e comparações. Como poeta que vive num presente intemporal, Caeiro é tudo o que Pessoa não é, e, além disso, é tudo o que poucos poetas contemporâneos podem ser: o Homem reconciliado com a Natureza.
A sua obra reflecte esta mesma íntima ligação entre imagem e escrita de rara intemporalidade, onde a atitude do homem no mundo é puramente contemplativa, perdendo assim a sua individualidade ao dissolver-se no anonimato do universo. Reflecte a essência do pensamento e atinge o conceito de universalidade, em nome da paz do Homem e da sua mais profunda razão de viver, que é afinal a própria Vida.
São verdadeiros testemunhos do soluçar da alma. As palavras têm uma beleza que transcende tempo e espaço. Dizemos que um poeta pinta com palavras, mas nesta obra é a sua pena que dá brilho e cores prodigiosas a descrições admiráveis. E não só. Chama pelo ninguém em cada um de nós e escuta o silêncio da solidão.


Esse clamor é uma sede de perfeição, harmonia e paz. É a luz que ilumina a viagem interior de um poeta. A única viagem possível e uma experiência acumulada e oferecida aos homens do futuro para que possam ter o prazer de uma vida plena.
Um dia há-de alguém escrever a Caeiro!»

JDACT