segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Espaço das representações sexuais e eróticas no Antigo Egipto. Josiane G. Silva. «… não era apenas um momento de prazer, mas sim a acção criadora, ou da origem da vida. Semelhante a outras religiões antigas, na crença egípcia os deuses faziam amor e sexo, sentiam o prazer sexual»

Papiro de Londres
Cortesia de wikipedia


Resumo
«A proposta do presente estudo terá como tema a análise das representações sexuais e eróticas no espaço quotidiano identificado nas fontes iconográficas e escritas encontradas em sítio arqueológico no Antigo Egipto. Para se compreender o ideal de sexualidade que existia no Egipto antigo é necessário o entendimento de aspectos culturais da sociedade egípcia na antiguidade. Como a religião interferia directamente no quotidiano desse povo, desde a realeza até à vida difícil do simples camponês. Para este estudo é preciso a análise e aplicação destes conceitos como quotidiano, espaço, religião, representação e sexualidade sobre as fontes».

«O acto sexual para os antigos egípcios não era apenas um momento de prazer, mas sim a acção criadora, ou da origem da vida. Semelhante a outras religiões antigas, na crença egípcia os deuses faziam amor e sexo, sentiam o prazer sexual. Esse sentimento e o desejo pelo sexo e fertilidade era um dos vários elos que ligavam estas divindades aos homens que viviam na antiguidade egípcia. Ou seja, na cosmogonia egípcia alguns deuses e os humanos foram criados através do acto sexual. De acordo com a religião, logo após a morte o Ba, alma da múmia teria no além a mesma vivência da primeira vida, desde que passasse pelo tribunal do Deus Osíris, por isso a tumba do morto era decorada com objectos do quotidiano e passagens do Livro dos Mortos, para que magicamente as acções representadas no seu túmulo acontecessem. É para ter vida, ou nascer no além o morto teria que ter sua fertilidade e os actos sexuais garantidos magicamente, como fez na sua tumba o faraó Ramsés IX, em que a sua virilidade está representada pelos falos erectos dos princípios masculinos, e a fertilidade representada pela mulher que é o princípio feminino. A infertilidade no quotidiano egípcio era algo bastante temido, tanto para os homens, quanto para as mulheres. Não ser fértil no Egipto poderia levar a um divórcio ou anulação da união do casal. O homem não fértil ou impotente era algo muito grave, pois este ao morrer dependeria de um filho que perpetuasse sua memória, levando oferendas e fazendo ritos na sua tumba. Com estes procedimentos o morto não teria seu nome esquecido, pois só assim ele viveria no além, não teria o risco de passar por uma segunda morte, que era a morte do esquecimento de sua memória. Percebemos que o sexo era fundamental para os egípcios, indo muito mais que o prazer, era a acção causadora da primeira via e asseguradora da segunda vida.
A prática sexual também fazia parte das acções do panteão egípcio, foi uma das acções praticadas pelos divinos para criar o mundo e os seres viventes. Na literatura faraónica encontra-se um variado número de relatos, que tratam da cosmogonia egípcia antiga, algumas delas estão carregadas de trechos eróticos.

Os deuses
As pesquisas revelam que houve durante todo o período faraónico, vários centros religiosos, sendo que geralmente alguns predominavam sobre outros, havendo até disputas e rivalidades entre essas regiões, pois a popularidade do culto de determinado deus garantia o poder do sacerdote local. A consequência da competição entre esses vários centros religiosos provocou uma variedade de cosmogonias. Podemos destacar cinco principais interpretações para a origem do mundo, dos deuses e da humanidade. Mas nos relatos que chegaram até nós, existe um elo que os ligam, uma espécie de espinha dorsal, em todas elas existiu um ser único causador da origem da vida. Os deuses egípcios se utilizavam, como retratam as passagens de varias compilações sagradas, do recurso do acto sexual para criarem outros seres, seja ele pela masturbação ou pelo acto simples da cópula. Dentre todos os mitos que tratavam do tema da origem do mundo, o que mais explicita o carácter da sexualidade no meio da sociedade dos deuses, é a Enéade de Heliópolis. Assim inicia o mito: Atum é o que veio à existência, o que se masturbou em Heliópolis. O que empunhou o seu membro p’ra criar o prazer. Com esse trecho, extraído dos textos das pirâmides, podem ser feitas análises sobre vários aspectos da sexualidade dos deuses no Antigo Egipto, a cosmogonia de Heliópolis é uma que nos fornece informações sobre a origem dos deuses e do mundo. Sabemos que, segundo Engel, para uma compreensão do quotidiano sexual de qualquer sociedade é importante adquirir noções básicas de vários aspectos de sua cultura e religião. Em se tratando da sociedade do Egipto Antigo, cultura e religião são completamente ligadas. Pois, como observou Heródoto: … de todas as nações do mundo, os egípcios são os mais felizes, os mais saudáveis e os mais religiosos». In Josiane Gomes Silva, Espaço das representações sexuais e eróticas no Antigo Egipto, Revista de História Espacialidades, volume 5, nº 4, 2012, ISSN 1984-817x.

Cortesia de R.Espacialidades/JDACT