Filósofos Orientais
«(…) Filósofo, médico,
matemático e músico, falava o turco, o árabe e o persa. Para os historiadores
árabes, depois do primeiro mestre, Aristóteles, Al-Farabí era o
segundo. Chegaram até nós mais de cinquenta títulos, alguns traduzidos na Idade
Média para latim e hebreu. Do Catálogo
das Ciências existe uma cópia manuscrita árabe no Escorial,
datada de 1310 e traduções latinas medievais.
Nesta obra analisa a ciência da linguagem, a utilidade da lógica,
as ciências matemáticas que compreendem
a aritmética, a geometria, a óptica, a astronomia, a música, a ciência dos
pesos ou mecânica, a ciência da engenharia. Vem depois a ciência física, a metafísica, a ciência
política, o direito e a teologia. O objecto da lógica, isto é, aquilo sobre o
qual a lógica dá regras são as ideias ou inteligíveis enquanto guardam relação
semântica ou significativa com as palavras, e as palavras enquanto significam
as ideias. A lógica tem de comum com a gramática o dar, como esta, regras acerca
do uso das palavras; e distingue-se dela em que a gramática dá apenas as regras
próprias e privativas das palavras de um povo determinado enquanto a lógica dá
as regras comuns e gerais para as palavras de todos os povos.
O cosmos é concebido
como um conjunto de esferas concêntricas em cujo centro fica a Terra. Em torno
dela giram as nove esferas com movimento circular e eterno, gerado em cada uma
delas pela inteligência da esfera imediatamente superior. O movimento celeste
provém do desejo de perfeição intrínseco a cada uma das esferas que querem assemelhar-se
às suas respectivas inteligências motoras. Ao mesmo tempo e imediatamente,
tendem para o ser primeiro. Todo o cosmos se move impulsionado pelo amor
universal de perfeição. No livro Sobre
o Governo das Cidades considera seis tipos de sociedades reais,
todas imperfeitas: a sociedade da pura necessidade, a sociedade da
riqueza, a sociedade depravada, a sociedade da honra, a sociedade
tirânica e a sociedade demagógica. Face às sociedades imperfeitas
contrapõe-se a sociedade ideal ou virtuosa que exige a saúde ética de todos os
cidadãos e a subordinação dos governantes aos supremos princípios racionais.
Defendia, na esteira de Platão,
que só uma elite de filósofos, capazes de ascese e distanciados do mundo
sensível, podiam ascender à sociedade ideal.
Ibn Sina, Abu Ali
Al-Husayn b. Abd Allah b. Sina (Avicena), (Afshana, perto de Bucara,
Uzbequistão 980-Hamadan, Pérsia,-1037). Avicena foi educado em
Bucara, onde o pai exercia um alto cargo na administração, e revelou-se desde
cedo um menino prodígio. Teve acesso à biblioteca do palácio. Numa das salas estavam as obras sobre
língua árabe e poesia, noutra as de direito islâmico; e assim em cada sala as
de um só saber. Li o catálogo dos livros dos Antigos e pedi quantos necessitei.
Entre esses livros vi alguns dos quais a gente não conhecia sequer o nome nem
eu mesmo os havia visto antes e não os voltei a ver depois.
Além de Bucara, viveu em
Gurgan, próximo do Mar Cáspio onde iniciou a redacção do Cânon de Medicina, atravessou o Qaraqum, viveu em
Nisapor, Rayy, Ispahan, Hamadan. Várias vezes ministro, conheceu a fuga e o cárcere.
O seu saber enciclopédico desenvolveu-se em obras que abordam as ciências
naturais, a física, a química, a astronomia, as matemáticas, a música, a
economia, a política, a moral, a exegese corânica. Em metafísica, os seus
mestres principais foram Aristóteles, Al-Farabi e Plotino
através da pretensa Teologia de
Aristóteles.
Em Avicena a teoria procura
sempre casar-se com o concreto. No Livro
do Juízo Imparcial, constituído por vinte volumes, que
desapareceram na tomada de Hamadan, e de que nos resta um fragmento, analisava
vinte e oito mil questões. No cárcere escreveu a Historia de Hayy ibn Yaqzan que teria larga influência nos
peninsulares Ibn Bayya e principalmente em Ibn Tufayl. À questão,
os universais existem fora dos
objectos individuais?, deu a resposta clássica de que existem ante res no espírito de
Deus; in rebus nas
coisas em que se manifestam; post res
depois das coisas no estado de abstração no espírito do homem; mas, no
mundo natural, os universais não poderiam existir fora das coisas individuais. Na
metafísica de Avicena encontra-se o essencial da doutrina de Al-Farabi
e de Aristóteles:
o contingente e o necessário, o
múltiplo e o uno. Para explicar o problema do múltiplo contingente e
mudante que existe no Uno necessário e imóvel, Avicena emite a hipótese
de uma inteligência activa intermediária, a alma. Deus é anterior ao mundo não
no tempo mas racionalmente enquanto essência, coisa em si e causa primeira». In
António Borges Coelho, Tópicos para a
História da Civilização e das Ideias no Gharb al-Ândalus, Instituto
Camões, Colecção Lazúli, 1999, IAG-Artes Gráficas, ISBN 972-566-205-9.
Cortesia de I.Camões/JDACT