Ao mar onde colhi o sal do meu tormento. In Salette
Soneto Pateta I
(…)
«Entorna,
deita,
verte
na
minha orelha uma centelha vermelha.
Palavra,
vinho,
brasa,
procissão,
livre,
secreta invasão
sob
as nossas mãos em asa.
Agora
guardo!
Não
deixarei que tornem a matar
cada
ovo ao frio da noite…
O
que aqui estava não era
o
teu jeito de beijar,
eram
limões abertos nos meus lábios
fechados
em porta sobre o sono,
eram
laranjas olorosas passeadas
na
branca união agreste de meus dentes.
Sabes
porque perdeste
a
mão?
Sabes
porque guardaste
a
luva?
Pássaro
ausente,
coração.
Vê
aqui a palavra
e
o vazio
que
lhe demos.
Não
podemos.
Não
fales,
olha,
bebe
o
horizonte horizontal».
Poema de Salette Tavares, in ‘Espelho Cego’
In
Salette Tavares, Obra Poética, 1957-1971, Biblioteca de Autores Portugueses,
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1992.
Cortesia
de Aportugueses/JDACT