D. Brites no governo e na administração da sua Casa
«(…) Donde, levar-nos a pensar que o infante Fernando não se conformava
em permanecer num plano mais secundário. Daí que preferisse agir sozinho. Em
caso de sucesso, permitir-lhe-ia alcançar glória, prestígio e mais riqueza, já
que também não se mostrava indiferente aos despojos que poderia obter. Em 1463, todavia, acompanhou Afonso V numa
expedição que tinha como objectivo atacar Tânger, mas o projecto redundou em
fracasso, face à fúria dos elementos que dificultaram o desembarque. Logo a seguir,
obtido o consentimento régio, o infante lançou-se sobre povoações situadas nas
faldas da serra de Benaminir, exigindo para si o quinto do espólio, fazendo
tábua rasa do direito cometido a Duarte Meneses, conde de Viana, primeiro
capitão de Alcácer Ceguer. Ignorando conselhos prudentes e assentes na
experiência, voltou a tentar a conquista de Tânger, em 19 de Janeiro de 1464, mas a surtida saldou-se, do lado
português, por duas centenas de mortos e uma centena de prisioneiros. Apesar do
desastre, retornou a África e atacou Arzila, sem quaisquer resultados
positivos. Em 1469, promoveu nove
expedição a Marrocos, atacando a cidade de Anafé, que arrasou e destruiu.
Nota Vitorino Magalhães Godinho que, se Anafé era um importante
ninho de galés e fustas bem armadas para a guerra de corso, que continuamente salteavam
as costas de Portugal, era igualmente um activo porto de comércio, por onde se
escoava o trigo, a seda fina, a fruta e as moedas de ouro e prata. E, ao levianamente arrasar Anafé, atraído
apenas pela colheita de um valioso espólio e pela satisfação de orgulho
cavaleiresco, o infante não ponderou a real importância da cidade. Enquanto
aguardava o marido, D. Brites remetia-se ao seu papel de mãe. Foram nove as crianças nascidas do matrimónio:
- João (? – 1472 ou 1473);
- Diogo (? - 1484);
- Leonor (1458 - 1525);
- Isabel (1459 - 1521);
- Duarte (? - ?);
- Dinis (? - ?);
- Simão (? - ?);
- Catarina (? - ?);
- Manuel (1469-1521);
- Mas apenas cinco iriam sobreviver à mortalidade infantil: João, Diogo, D. Leonor, D. Isabel e Manuel.
Mas a 18 de Setembro de 1470,
D.
Brites viria novamente partir o infante Fernando, mas desta vez para
ume viagem sem regresso. Fechava-se um ciclo, que se iniciara em Alcáçovas,
quando o recebera por marido. Outro se abria agora, que não lhe iria permitir
que e tristeza do momento pudesse aniquilar ou sequer intervir na vida que
continuava. As filhas, D. Leonor e D. Isabel, haviam celebrado os esponsais,
desde muito jovens, no paço de Setúbal e ainda em vida de seu pai. A
primeira, pelo seu casamento com o príncipe herdeiro, João, futuro João II,
cingiria a coroa de Portugal; a segunda tornar-se-ia duquesa de
Bragança, unindo os seus destinos ao duque Fernando, vinte e oito anos mais
velho do que ela, viúvo de D. Leonor Meneses, filha de Pedro Meneses, conde de
Viana e marquês de Vila Real. Voltando a citar o conde de Sabugosa, diremos que
as duas irmãs tiveram assim em sorte
os mais cobiçados maridos da Península, o que mais uma vez vem
demonstrar a grandeza da Casa de Viseu - Beja, ou a continuada ambição de
Fernando, já que, tanto Rui Pina como Garcia Resende referem que Afonso V teria
admitido o casamento de seu filho com uma outra sobrinha, a princesa D. Juana, matrimónio
muito do agrado do pai desta, Enrique IV de Castela, mas para confortar o
irmão, anojado e triste, com o insucesso da pretendida conquista de Tânger,
acedera ao pedido que o infante anteriormente lhe fizera.
Quanto ao outro noivo, naturalmente que havia todo o interesse em reforçar
os elos com a poderosa Casa de Bragança, não esquecendo que outra não havia que
se lhe comparasse. Fernando não poderia eleger diferentes maridos para suas
filhas, sob pena de se constranger a si próprio». In Maria Odete Sequeira Martins,
D. Brites (Beatriz). 1429-1506, Mulher de Ferro, Quidnovi, 2011, Via do Conde,
ISBN 978-989-554-789-0.
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