Apriorismo
«A
evolução do universo tem duas facetas manifestamente distintas. Predomina numa
o determinismo Laplaciano. Este faculta-nos a formular as leis da natureza. A
outra tem caprichos e segredos que não nos é permitido conhecer na sua totalidade.
A sua mola real é o Jeova misterioso. Mas isto não exclui de todo o seu
conhecimento. Processos a priori
ainda se insinuam nos penetrais do Indeterminismo. Ao filósofo, sei eu, é de
especial interesse essa questão de apriorismo. O físico da velha escola odeia-a
com todas as veras. Por sua vez, e por fartas razões o físico contemporâneo enjeita
o filósofo que se emperra na sua obtusidade, e o físico ortodoxo pelo seu exagerado
respeito às convenções. No terreno indefinido onde as fronteiras de Filosofia e
Física se confundem espadana o veio irrequieto da Epistemologia Científica.
Embora circunscritas a um limitadíssimo campo do sub-atómico, as experiências
laboratoriais têm já acogulado a ingenuidade da prodigiosa actividade do cientista.
Nos vislumbres do físico filosófico bruxolea a lâmpada da Nova Filosofia. Quero
dizer que, embora o Principio de Incerteza de Heisenberg tenha sido formulado,
graças a inevitabilidade do efeito Compton nas delicadas experiencias sub-atómicas,
encerra ele uma generalização de carácter iconoclasta. Acontece o mesmo com as
questões macroscópicas onde a Relatividade de Einstein assolou cabal e
irreverentemente as mais respeitadas tradições clássicas.
O
escopo dessas fugidias linhas é trazer à balha o melindroso assunto do
apriorismo das leis da natureza e a contribuição das teorias de relatividade e
quântica. Não vá supor que se resvala assim na ilusão do subjectivismo. O objectivismo
do universo, é impossível negá-lo. Mas se as abstracções matemáticas, produto
de razão pura, podem ser chamadas subjectivas, é também impossível esquivar-nos
ao facto de que a mór parte da nossa bagagem cientifica, essa a que damos o
duvidoso nome de Leis da Natureza, é incontestavelmente subjectiva.
convém distinguir o chocho subjectivismo de Berkeley do preconizado aqui, que é
somente admissível nas leis físicas, e não espirituais ou morais. Não será
possível que o eminente físico neozelandês (Eddington) tenha afinado o seu
aparelho de forma a apanhar o núcleo, de mesma forma como o monstruoso
salteador de velha Ática, Procusto,
acomodava os seus hóspedes ao seu leito de ferro? É desconcertador.
Esse modo de antolhar e questão nos induze a considerar as leis da Natureza não
como descobertas, e por conseguinte, tendo uma existência objectiva nela, mas
como invenções, feitas à nossa forma de
pensar. Isto assim, não é apriorismo
por excelencia?» In Bailon de Sá, Pontos de Vista, New Age
Printers, Goa, Índia, 1998.
Para
Álvaro José. Descansa em paz
Cortesia
NAPrinters/JDACT