Duquesa de Viseu e duquesa de Beja. Uma rica e poderosa dona
«(…) A capela, iluminada por castiçais e lâmpadas de prata,
adornar-se-ia com ricas alfaias sagradas, entre as quais uma ara de jaspe
verde, encastoada num castão de marfim; um porte-paz de prata com sua caldeira
de água benta e palea da Holanda lavrada a ouro e aljôfar; um cálice grande de
prata dourada cinzelada, com seis campainhas de prata pendentes e respectiva
patana, com um esmalte no centro; duas galhetas de prata dourada, em forma de
gomis; uma naveta de prata dourada; paramentos de brocado, de damasco, de
veludo, de pano da Índia, muitos deles lavrados e ouro. Nas estantes,
recobertas com panos de veludo, de damasco ou de chamalote colocar-se-iam os
livros litúrgicos: o missal de letra de pena, em pergaminho, que pertencera ao
infante João; o missal, também em pergaminho, manuscrito e iluminado; o missal
de pena que servia pelas festas; um outro, igualmente de letra de pena, em pergaminho,
encadernado em couro vermelho; sem esquecer o velho livro roto em partes, com sua
funda de chamalote azul. Seguir-se-iam o breviário de pergaminho, de letra de
pena, encadernado, com brochas de prata com as divisas de D. Brites; outro
breviário, também de letra de pena, em pergaminho, iluminado; os seis livros de
canto de órgão; os doze cadernos de procissões; o santoral anotado, de
pergaminho, encadernado em couro vermelho, com brochas de latão; o caderno de
pergaminho, anotado, em que estam certas misas d’oficio do amjo;
o livro de vésperas, de pergaminho; o oficial de missas, de pergaminho,
anotado; o diurnal; o sacramentário; o confessional; o catecismo, em
forma purtuguesa, e os livros da educação cristã: Vita Christi, Genesy Alfonse, Vida
Amgelica, Flos Santorum, Corte empereal e o livro Das Penas do Imferno e da Gloria
Final. Expostos ou resguardados encontravam-se também os relicários:
uma cruz, que pertencera ao infante João, encimada por uma coroa de espinhos,
tendo ao centro uma bolsa de ouro, ornada com duas vieiras esmaltadas de branco
e rodeada por cinco diamantes encastoados, contendo uma relíquia do Santo
Lenho; um relicário de ouro, grande, encimado por uma cruz, com três rubis
barrocos, três diamantes, seis pérolas grossas, encastoadas em esmalte e um terceiro,
também de ouro, esmaltado, em que se continha um osso de São Brás. Enfim, nos
armários guardar-se-iam os panos de cetim destinados ao púlpito e as tolhas de
altar, de pano da Holanda e de lenço da Índia, lavradas e ouro.
Deixemos a capela e entremos na cozinha. Para a confecção e apresentação
dos alimentos dispunha a infanta de uma apreciável quantidade de tachos de
cobre, de sertãs, de espetos, de caldeiras, de enfusas, de alguidares, de
bocetas, de púcaros, de bandejas, de pratos de estanho e de prata, de talheres
de prata, de copos de cristal de variadas cores, de gomis, de jarros, de
açucareiros de prata, de porcelanas, de toalhas de damasco, provenientes da
Holanda e da Flandres. À sua mesa não faltavam as frutas frescas, as conservas,
os confeitos, as especiarias: canela, cravo, gengibre, malagueta, noz-moscada,
pimenta». In Maria Odete Sequeira Martins, D. Brites (Beatriz). 1429-1506, Mulher
de Ferro, Quidnovi, 2011, Via do Conde, ISBN 978-989-554-789-0.
Cortesia de Quidnovi/JDACT