Antes
de Portugal (1816-1836). A família Coburgo
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O destino de Leopoldo não ficou por aqui. Em 1830 ofereceram-lhe a coroa da Grécia, provocando a fúria da mãe ao
vê-lo interessado. Leopoldo recusou, mas no fim da vida sentia-se arrependido
da sua decisão. Logo no ano seguinte conseguiu um trono civilizado, que mereceu a aprovação de todos, quando os Belgas o
elegeram como seu primeiro rei. Precisava agora de uma rainha e de
descendentes, como precisava do apoio da França, vizinho demasiado poderoso,
cujas ambições expansionistas tinham de ser amainadas e que importava converter
em aliado de peso, se a Holanda não desistisse de reincorporar a Bélgica.
Conseguiu o que queria, mais uma vez, ao casar-se com Luísa de Orleães
(1812-1850), filha do rei dos Franceses.
Deste
casamento nasceram os últimos primos coirmãos de Fernando Augusto, que,
pela idade, já pertenciam à geração seguinte: Leopoldo (1835-1909), que
sucederá, ao pai, Filipe (1837-1905), conde da Flandres, que virá, a casar com
a irmã da defunta rainha Estefânia de Portugal; e Carlota (1840-1927), a quem os
Coburgos destinavam o nosso rei Pedro V mas se uniu a Maximiliano, que era
irmão do imperador Francisco José da Áustria e foi efémero imperador do México.
Muito
antes disto, em 1817, ano da morte
de Carlota e do desfazer dos sonhos britânicos de Leopoldo, casou o chefe do
clã Coburgos, o irmão Ernesto III de Saxe-Coburgo-Saalfeld, com Luísa de
Saxe-Gotha-Altenburg, uma adolescente de 16 anos, escolhida por ser uma das
herdeiras do duque soberano de Gotha-Altenburg, que não tinha descendentes directos.
Com a morte deste foi possível agregar os ducados, geograficamente
descontínuos, de Coburgo e de Gotha, naTuríngia. A reestruturação de ducados,
provoca da
pela extinção da Casa de Saxe-Gotha-Altenburg, implicou a cedência de Saalfeld
por parte de Ernesto, que assumiu o título de Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gotha.
Foi só então, em Novembro de 1826,
que os membros masculinos da família Coburgo adoptaram esses apelidos, tinha o
futuro rei de Portugal 10 anos de idade.
O
casamento de Ernesto com Luísa Saxe-Gotha-Altenburg foi desastroso. Luísa deu à
luz, em anos sucessivos, Ernesto (1818-1893), futuro Ernesto II, e Alberto (1819-1861),
futuro príncipe consorte de Inglaterra, mas em 1824 o duque descobriu que a mulher tinha um amante. Ernesto fora
sempre infiel, mas não perdoou. Luísa foi expulsa de Coburgo, levada durante a noite
para impedir os protestos da população, que se manifestara a seu favor, e
separada dos filhos, que não mais tornou a ver por imposição do marido. Este só
fez avançar o divórcio depois da morte do duque de Gotha, em Fevereiro de 1825, embora Augusta o pressionasse já
antes disso porque receava que ele voltasse a receber a esposa. Mas Ernesto
manteve-se inflexível e a família Coburgo reteve a herança de Luísa, já, banida
dos seus territórios.
Além
deste infeliz episódio, impossível de ocultar, correu o rumor de um segredo
inconfessável: Alberto, nascido em 1819,
não seria filho de Ernesto, mas do tio Leopoldo, o que explicava o interesse e
afecto que este último sempre demonstrou pelo sobrinho. Não há fontes que
comprovem esta versão. Luísa casou em 1826
com o antigo amante e viria a falecer em Paris, em 1831, angustiada porque os filhos a teriam esquecido e ninguém lhes
falava dela. Ernesto contraiu segundas núpcias no ano imediato com a sobrinha Maria,
filha de Antonieta. Não houve filhos deste casamento e Ernesto e Alberto, que
eram primos direitos da madrasta, foram ensinados a trata-la por mãe.
Esta
nova geração continuaria a erguer o prestígio da família. De tal forma que logo
na década de 1840 Augusto Scheler
afirma que a história moderna não oferece
um segundo exemplo de uma Casa soberana que, no espaço de uma geração, tenha
engrandecido tanto os seus estados hereditários e preenchido três tronos
europeus, a Bélgica, a Grã-Bretanha e Portugal. De facto, seria agora a vez
de se ligarem aos Braganças de Portugal, novamente aos Hanôvers ingleses, mas
também aos Orleães de França. Tentaram, sem o conseguir, ocupar o trono da
Grécia, casar um dos seus com a rainha Isabel Bourbon de Espanha e mais tarde
ocupar esse trono. Estes novos Coburgos eram Fernando Augusto, os
irmãos e os seus primos direitos que se apresentaram. Os seus filhos, por sua
vez, criaram laços de parentesco estreito com os Habsburgos da Áustria, os
Hohenzollerns da Prússia, os Saboias de Itália, os Braganças do Brasil, as
Casas reinantes da Saxónia real, Baviera e Dinamarca, fundando mesmo uma nova
dinastia, a do reino da Bulgária, cujo primeiro monarca foi um sobrinho de
Fernando, filho de Augusto». In Maria Antónia Lopes, D. Fernando II, Um
Rei Avesso à Política, Círculo de Leitores, 2013, ISBN 978-972-42-4894-3.
Cortesia
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