Os Bastardos do Bolonhês
«(…) O bastardo, que foi mordomo-mor da Rainha Santa Isabel, sua
cunhada, teve cinco filhos: Pedro Afonso Sousa, rico-homem da corte do seu primo, Afonso IV,
tendo geração do seu casamento com Elvira Anes da Nóvoa; Rodrigo Afonso Sousa,
senhor de Arraiolos e Pavia, que casou com Violante Ponço Briteiros e teve uma
filha; Diogo Afonso Sousa, senhor de Mafra, que casou e teve geração; Garcia
Mendes Sousa, prior da Alcáçova de Santarém; e Gonçalo Mendes Sousa,
que morreu sem geração.
Os dois primeiros tiveram também filhos fora de seus casamentos:
Gonçalo Rodrigues Sousa, Fernão Gonçalves Sousa e Aires Rodrigues Sousa, no
caso do primeiro; e Diogo Lopes Sousa, no caso do segundo.
Dois dos outros bastardos de Afonso III, Martim e Urraca
Afonso, teriam nascido de uma moura
que o rei conheceu e amou aquando da conquista do Algarve. Essa moura
chamar-se-ia Madragana e, diz frei António Brandão, seria filha de
Aloandro ben Bekar, um dos alcaides mouros de Faro. Convertida e baptizada,
teria passado a chamar-se Mor Afonso. Não há nenhuma dúvida de que Martim
Afonso, por alcunha o Chichorro,
talvez por ser baixo foi filho da moura. Nascido cerca de 1260 e criado por João Pires Lobeira,
casou com Inês Lourenço, filha de Lourenço Soares Valadares e Maria Mendes, incestuosa fidalga que tivera amores
com seu irmão, Gonçalo Mendes... Deste casamento houve cinco filhos,
entre os quais um Martim Afonso Chichorro, rico-homem da corte do rei Dinis I,
que não casou mas foi pai de dois bastardos: Vasco Martins de Sousa e Martim
Afonso Sousa.
Mas dúvidas há, e muitas, de que Urraca Afonso, segunda do nome, também
fosse filha da moura Mor Afonso.
Tal era a lição dos livros de linhagens. Hoje, porém, sabemos ser filha de Maria Afonso, provavelmente
a dona de Santarém, já que Urraca herdará casas nessa cidade [...] que
pertenciam a sua mãe e a João Redondo. Esta Urraca Afonso, que, como se
viu, Afonso III casou com o filho de uma amante sua, foi muito estimada por seu
pai, a quem deu numerosos netos. No rol dos bastardos do Bolonhês há quem inclua, ainda, um Henrique Afonso, de quem por
junto se sabe que casou com uma D. Inês e morreu na guerra da Palestina. Mas
são muitos os que duvidam da sua existência, apesar do epitáfio, inverosímil e suspeitoso, que existe no Mosteiro
de Santa Clara de Santarém e diz: Aqui
jaz o Infante D. Henrique Afonso, filho del-Rey D. Afonso III e sua mulher a
Infanta D. Ignez. A verdade é que o nome deste infante, não consta do testamento do rei Afonso III, que contemplou
nele todos os seus bastardos. Às filhas, arranjou-lhes bons maridos. Mas como
era, além de bom pai, bom rei, tratou de fazer casamentos políticos, destinados não apenas a garantir o futuro das
bastardas mas também a controlar as famílias mais poderosas do Reino
Portucalense, que nem todas faziam o favor de ser suas amigas.
A fina-flor do reino de Dinis I
Primeiro e único deste nome, Dinis, o
rei Trovador, nasceu em Outubro de 1261
e morreu em Janeiro de 1325. Casou a
24 de Junho de 1282 com D. Isabel de
Aragão, a Rainha Santa, e desse
casamento, que não foi muito feliz, nasceram apenas dois filhos: D. Constança, que
foi rainha de Castela, e Afonso, que foi rei de Portugal. Bem mais numerosos
foram os seus bastardos.
Com efeito, o rei Trovador
Dinis, que foi mui dado a mulheres e não conversou poucas, teve, que se
saiba, sete filhos ilegítimos, cada um dos quais nasceu de uma mãe diferente.
Esses bastardos, que Agustina Bessa-Luís considerou a mais fina-flor do reino, foram:
- Pedro Afonso, conde de Barcelos;
- Afonso Sanches, senhor de Vila do Conde;
- Outro, Pedro Afonso, que casou com Maria Mendes e pode estar sepultado na Sé de Lisboa;
- João Afonso, senhor da Lousã, havido de Maria Pires, boa dona do Porto;
- Fernão Sanches, seguramente a figura mais discreta dos bastardos do monarca Dinis, que recebeu de seu pai largas mercês e casou com D. Froile Anes Briteiros, morrendo sem geração nos seus paços de Recardães, em Junho de 1329;
- Maria Afonso, havida de D. Marinha Gomes, mulher nobre, que casou com João Lacerda (bisneto do rei Afonso X de Castela) e de quem estranhamente o conde de Barcelos não fala no seu Nobiliário;
- Outra, D. Maria Afonso, havida talvez (segundo frei Francisco Brandão) de Maior Afonso ou de Branca Lourenço de Valadares, que foi freira no Mosteiro de Odivelas, fundado por seu pai, onde ergueu um altar a Santo André e acabou com opinião de Santa, no ano de 1320.
In Isabel Lencastre, Bastardos Reais, Os Filhos Ilegítimos dos Reis de
Portugal, Oficina do Livro, 2012, ISBN 978-989-555-845-2.
Cortesia de Oficina do Livro/JDACT