Duquesa de Viseu e duquesa de Beja. Uma rica e poderosa dona
«(…) E se visitássemos a botica, poderíamos observar as burnees alinhadas, conferindo os xaropes:
de mel rosado, de mel de rosmaninho, de mel de avenca; ou espreitar as
almotolias com óleo de raposa e com óleo de hortelã; e as arredomas com água de flor de laranjeira, de erva-cidreira e mais
vinte e oito cõ xaropes de muitas maneiras e cãtidades. Se o boticário o permitisse,
poderíamos ainda reparar nos utensílios que usava para elaborar as mezinhas, e
talvez, com um pouco sorte, nos mostrasse os gatos de algália.
Mas não era só o extenso património ou a demonstração da magnificência
do seu palácio de Beja, a que acresciam os paços de Azeitão e de Belas, que
revelavam o poder de D. Brites. Para além das ligações familiares com as casas
mais influentes do reino, a sua corte contava com fidalgos que detinham altos
cargos na administração e nas ordens militares, dos quais desatacaremos: Álvaro
Almeida, comendador da Ordem de Santiago, Álvaro Cunha, estribeiro-mor de Afonso
V e de João II, Antão Oliveira, cavaleiro da Ordem de Cristo, Artur Brito,
alcaide-mor de Beja, Duarte Sodré, comendador da Ordem de Cristo, Fernão Sousa,
comendador da Ordem de Cristo e alcaide de Salvaterra de Magos, Francisco Góis,
alcaide-mor de Mértola, Garcia Melo, comendador da Ordem de Cristo, Gil Vaz Cunha,
comendador da Ordem de Cristo, Gonçalo Vaz Cunha, senhor de Vila Nova de
Portimão, vedor da Fazenda e governador da Casa do Cível, Henrique
Albuquerque, alcaide-mor de Marvão, Henrique Pereira, comendador da Ordem
de Santiago, Leonel Rodrigues, cavaleiro da Ordem de Cristo, Rodrigo Afonso Atouguia,
membro do conselho de João II e capitão donatário da ilha de Santiago, e Rodrigo
Castro, membro do conselho de João II e alcaide-mor da Covilhã.
A Cúria Romana também não ficou alheia à infanta-duquesa, que manteve
relações privilegiadas com a Santa Sé, nomeadamente nos pontificados de Sisto
IV e de Inocêncio VIII, de quem obteve por intercessão do cardeal de Portugal,
Jorge Costa, personalidade sempre muito próxima da Casa de Viseu-Beja,
diversas letras apostólicas que, nomeadamente, favorecerem o Mosteiro de Santa
Maria da Conceição, que a duquesa edificara em Beja. Ao invés, também o Sumo
Pontífice recorreu a D. Brites. Assim, Sisto IV pretendendo demover João II da
aplicação rigorosa da lei do beneplácito, no preciso momento que enviava o
núncio João Mierli a Lisboa, solicitava à infanta que envidasse esforços no
sentido de aconselhar o rei a não attentar contra liberdade eclesiástica.
D. Brites no governo e na administração da sua Casa
O infante Fernando haveria de falecer ainda jovem, aos 37 anos de
idade, em Setúbal, a 18 de Setembro de 1470,
sucumbindo à doença que o vinha afligindo desde há alguns meses. Nos anos em
que decorreu o casamento, pouco se sabe da duquesa que, certamente, estaria
cuidando da sua casa e da família, conforme ao modelo estatuído, que congregava
o consenso de clérigos e laicos: Boa espose é aquela que está em casa e que
da casa toma conta. O marido, demasiadamente ambicioso para se satisfazer
com o governo de sua casa, perdidas as esperanças de cingir a coroa portuguesa
ou a de Nápoles, já que não obtivera autorização para integrar o séquito que
levara sua irmã, a imperatriz D. Leonor, à Itália, ao encontro de Frederico
III, o que lhe permitiria contactar seu tio Afonso V, o Magnânimo, que não dispunha de herdeiro legítimo, voltara-se para
outro cenário, concretizado em surtidas ao Norte de África, conquanto, numa
primeira fase, não houvesse apoiado o irmão na prossecução da política africana».
In
Maria Odete Sequeira Martins, D. Brites (Beatriz). 1429-1506, Mulher de Ferro,
Quidnovi, 2011, Via do Conde, ISBN 978-989-554-789-0.
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