O Hospital Real das Caldas de Lafões
«(…) Braamcamp
Freire diz que o cargo de provedor das Caldas de Lafões
parece ter sido criado de novo,
ou então que não estava provido, pois, na
carta de nomeação, não se faz
referência ao antecessor de Fernão Lopes d’Almeyda. Vamos pela primeira hipótese. O
cargo de provedor das Caldas não devia existir antes, porque
deve ter resultado da criação do
Hospital e a carta de nome ação eÍa, ao mesmo tempo, o
primeiro regimento para a sua administração. À morte de Fernão Lopes d’Almeyda,
a administração das Caldas e provedoria do Hospital passou para seu filho
Duarte d’Almeyda, nomeado por carta de 11 de Janeiro de 1514, confirmada
por João III, em 18 de Novembro de 1527. Assinale-se que este Duarte d’Almeyda
não é o Decepado.
É confusão que algumas vezes se tem feito. Entre outros, Esteves Pereira diz
que Manuel I deu a provedoria
das Caldas a Duarte dAlmeida, o Decepado. É erro. Àquela
data, o Decepado
já não era vivo e este Duarte d’Almeida é outro, posterior e bem identificado.
Baptista Sousa publica o texto da carta, que diz
ter copiado de um título existente no Cartório de Diogo d’Almeyda d'A’zevedo Vasconcelos,
da vilade S. Pedro do Sul. Nesta carta se lê: Dom Manuel (…) confiando nós na bondade e descrição e conciencia de
Duarte d’Almeyda Fidalgo de nossa Casa, (…) o damos daqui endiante por Provedor,
e admenistrador das Caldas e Celleiro, e couzas que a ellas pertencem que estão
em o Concelbo terra de llafoens, e pella guiza e maneira. que o hera e tinha o
dito Fernão Lopes d’Almeyda seu Pay... Seguem-se, textualmente
repetidas, as obrigações impostas na carta de 1502. Da leitura de
Baptista Sousa e, posteriormente, de Eduardo Santos, que transcreve Sousa,
poderia ficar a impressão de que tais obrigações foram estipuladas, pela
primeira vez, a Duarte d’Almeyda, quando, na realidade, o foram, como é lógico,
ao primeiro provedor. Por morte de Duarte d’Almeydà, o rei Sebastião I, em 17
de Dezembro de 1557, concedeu o cargo de Provedor e Administrador das
Caldas ao físico-mor do reino, Sebastião Rodrigues Azevedo, em absencia de Gonçalo d’Almeyda, senhor da
Casa da Cavalaria, diz Pires Sylva.
Acrescentemos que o novo provedor era casado com
Isabel d’Almeyda, irmã. De Gonçalo. Esta relação de parentesco não tem sido
apontada pelos autores que sobre as Termas
têm escrito, com excepção de Braamcamp Freire. E é importante, porque, não fora
o facto de Sebastião Rodrigues Azevedo ser casado com uma irmã de Gonçalo d’Almeyda,
ficaria por explicar a presença do físico-mor do reino na administração das
Caldas e poder-se-ia pensar que, com ele, a provedoria deixara de pertencer aos
Almeydas da Cavalaria. Estipula a carta de mercê que o novo provedor ficava com
todas as obrigações anteriores e mais outras, nomeadamente, … ter hum Capellão que diga missa nos ditos
banhos todos os domingos, e hum dia na semana, havendo nella dia santo de
goarda (…) o qual Capellão haverá d’ordenado dous mil reais em cada hum anno (…)
a ter nos ditos banhos hum calis de prata e huma vestimenta e todos os mais
ornamentos e cousas que forem necessarias para se dizer missa e serviço do
altar (…) e a ter em cada huma das quatro camas daclaradas na dita carta hum colchão
e dous lençoes (…) e asy sera mais obrigado a repairar a fonte da agoa dos
ditos banhos e os canos por que vem a elles, e asy as cazas e todo o mais que
for necessario (…) e dara azeite em abastança que alumie as ditas cazas
enquanto nellas houver enfermos.
No reinado do cardeal Henrique, certamente devido
ao período conturbado que se viveu, a administração das Caldas esteve a cargo
da Câmara de Lafões. Mas por pouco tempo, talvez por isso Pires Sylva não
refere o facto, pois, em 14 de Julho de 1583, Filipe I, a requerimento
de Manuel d’Azevedo Almeyda, filho do anterior provedor concede-lhe a
administração: … e por lhe fazer
mercê Ey por bem e me praz de lha fazer do cargo de Provedor, e administrador
do dito Hospital em sua vida e asy e da maneira, e com todos os encargos e
obrigaçoens, poderes e jurisdição, que com elle tinha o dito seu Pay por cujo
felecimento vagou…» In Nazaré Oliveira,
Termas de S. Pedro do Sul (Antigas Caldas de Lafões), 2002,
Palimage Editores, Viseu, ISBN 972-8575-38-6.
Cortesia de Palimage/JDACT