Demissão
«Este mundo não
presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
a fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
de morder os mais fracos, se mandamos,
e de lamber as mãos, se dependentes».
Já por tempo de mais aqui andamos
a fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
de morder os mais fracos, se mandamos,
e de lamber as mãos, se dependentes».
Passado, Presente, Futuro
«Eu
fui. Mas o que fui já me não lembra:
mil camadas de pó disfarçam, véus,
estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.
Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
rã fugida do charco, que saltou,
e no salto que deu, quanto podia,
o ar dum outro mundo a rebentou.
Falta ver, se é que falta, o que serei:
um rosto recomposto antes do fim,
um canto de batráquio, mesmo rouco,
uma vida que corra assim-assim».
Poemas de José Saramago, in ‘Os Poemas Possíveis’
mil camadas de pó disfarçam, véus,
estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.
Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
rã fugida do charco, que saltou,
e no salto que deu, quanto podia,
o ar dum outro mundo a rebentou.
Falta ver, se é que falta, o que serei:
um rosto recomposto antes do fim,
um canto de batráquio, mesmo rouco,
uma vida que corra assim-assim».
Poemas de José Saramago, in ‘Os Poemas Possíveis’
JDACT