sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Sexualidade. Erotismo. Amor. Ludwig Knoll e Gerhard Jaeckel. «Só uma pequena parte dos actos sexuais é realizada tendo em vista a reprodução, ou em nome do amor. “A humanidade procura o prazer na sexualidade”. O prazer é considerado como isca, por meio da qual a natureza leva o homem à reprodução»

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«A sexualidade, o erotismo e o amor estão relacionados entre si. Interpenetram-se e não é possível traçar quaisquer fronteiras definidas entre eles. Os três conceitos em si não podem definir-se claramente, sobretudo porque são diferentemente aplicados segundo o contexto. Duma maneira geral, entende-se por sexualidade tudo o que se insere no âmbito do físico e instintivo; por erotismo as formas requintadas, espiritualizadas e influenciadas pela civilização humana; e por amor as relações pessoais. Durante muito tempo considerou-se a reprodução o objectivo único da sexualidade, que era assim considerada, ao mesmo tempo, como a relação entre os dois sexos. No entanto, basta o aparecimento da homossexualidade, que existe igualmente em povos primitivos (e até nalgumas espécies de animais), para demonstrar que essas ideias são insuficientes. Das relações heterossexuais fazem parte muitos actos que não servem para e reprodução ou que nem sequer têm nada a ver com os órgãos sexuais. O mais extraordinário exemplo disto é o beijo. A sexualidade humana também não começa só na puberdade, em cujo fim se encontra a capacidade de reprodução. O instinto sexual encontra-se em actividade desde os primeiros dias de vida, e as suas formas de expressão desenvolvem-se no decurso da infância, muito antes de as glândulas sexuais começarem a funcionar. Depois da puberdade a reprodução continua ainda a ser evitada por motivos sociais, embora nesta altura a sexualidade esteja em pleno florescimento e tenha, portanto, também de encontrar qualquer forma de expressão.
Dum outro ponto de vista, considerava-se como objectivo da sexualidade a sua força no estabelecimento de ligações humanes e na sua manutenção. Portanto, nesta acepção, a sexualidade é quase equiparada ao amor. Mas há muitos encontros sexuais que não valorizam o parceiro como indivíduo: basta pensarmos nos actos sexuais sem parceiro (auto-erotismo). Pelo contrário, é frequente certas relações de amor ou amizade não poderem efectivar-se sem serem imediatamente identificadas como sexuais. A forma preferida de ligação duradoura, que servirá igualmente para a reprodução, é o casamento. Mas os casamentos celebram-se muitas vezes segundo exigências de parentesco ou grupos étnicos, sem se ter muito em conta o amor. O  próprio casamento significa, para além de sexualidade ou amor, igualmente uma comunhão de trabalho e de economia e, se for bem sucedido, transforma-se em amizade. A instituição social do casamento e as suas possibilidades são um exemplo de como as motivações sexuais se podem confundir com outras motivações bem diversas.
Só uma pequena parte dos actos sexuais é realizada tendo em vista a reprodução, ou em nome do amor. A humanidade procura o prazer na sexualidade. Ocasionalmente, o prazer é considerado como isca, por meio da qual a natureza leva o homem à reprodução. Mas a vida exige tanto e traz tantas preocupações que poderemos perguntar se a humanidade ainda teria coragem suficiente para sobreviver sem este prazer. A sexualidade humana distingue-se da maior parte dos animais em primeiro lugar porque o comportamento dos humanos já não é certamente ditado pelos instintos, mas, pelo contrário, tem de ser regulado pela razão. Esta modificação começa já nos macacos. Depois produzem-se modificações fundamentais no decurso do progresso permanente da humanidade. A forma da bacia transforma-se; a gravidez e o parto tornam-se mais difíceis; surge uma nova aquisição, o hímen; torna-se possível a união sexual frente a frente. O bebé humano, em consequência do parto mais difícil, nasce num estado mais prematuro do que o dos filhotes dos outros mamíferos, tendo de permanecer durante mais tempo sob a protecção dos pais. Nestas transformações físicas estão já preparadas consequências psicológicas que conduzem a uma civilização, a um erotismo. Com a passagem à posição vertical, os órgãos sexuais tornam-se visíveis: aqui começa o sentimento de vergonha. O homem ergue-se da terra; o seu olfacto perde importância e, visto que é uma reminiscência do passado animal, muitas sensações olfactivas tornam-se francamente tabu. Em contrapartida, cultivam-se os sentidos relativos à distância, a vista e o ouvido». In Ludwig Knoll e Gerhard Jaeckel, 1976, Léxico do Erótico, Sexualidade, Erotismo e Amor, Livraria Bertrand, Círculo de Leitores, Oficinas Gráficas da Livraria Bertrand, 1981.

Cortesia de LBertrand/JDACT