segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Música. Poesia. Rodrigo Leão. Fernando Pessoa. «O prazer do momento anteponhamos à absurda cura do futuro, cuja certeza única é o mal presente com que o seu bem compramos. E o mesmo útil para nós perdemos connosco, cedo, cedo. Neste instante, que pode o derradeiro ser de quem finjo ser? É o momento, eu só quem existe…»

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Não quero mais que o dado
«Do que quero renego, se o querê-lo
me pesa na vontade. Nada que haja
vale que lhe concedamos
uma atenção que doa.
Meu balde exponho à chuva, por ter água.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
recebo o que me é dado,
e o que falta não quero.
O que me é dado quero
depois de dado, grato.
Nem quero mais que o dado
ou que o tido desejo».


Guia-me a só a razão
«Guia-me a só a razão.
Não me deram mais guia.
Alumia-me em vão?
Só ela me alumia.

Tivesse quem criou
o mundo desejado
que eu fosse outro que sou,
ter-me-ia outro criado».


«Deu-me olhos para ver.
Olho, vejo, acredito.
Como ousarei dizer:
cego, fora eu bendito?

Como olhar, a razão
Deus me deu, para ver
para além da visão
olhar de conhecer».


«Se ver é enganar-me,
pensar um descaminho,
não sei. Deus os quis dar-me
por verdade e caminho».
Poemas de Fernando Pessoa in ‘Odes / Rícardo Reis e Cancioneiro


«Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra».
In Alberto Caeiro

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