Não
quero mais que o dado
«Do
que quero renego, se o querê-lo
me
pesa na vontade. Nada que haja
vale
que lhe concedamos
uma
atenção que doa.
Meu
balde exponho à chuva, por ter água.
Minha
vontade, assim, ao mundo exponho,
recebo
o que me é dado,
e
o que falta não quero.
O
que me é dado quero
depois
de dado, grato.
Nem
quero mais que o dado
ou
que o tido desejo».
Guia-me
a só a razão
«Guia-me
a só a razão.
Não
me deram mais guia.
Alumia-me
em vão?
Só
ela me alumia.
Tivesse
quem criou
o
mundo desejado
que
eu fosse outro que sou,
ter-me-ia
outro criado».
«Deu-me
olhos para ver.
Olho,
vejo, acredito.
Como
ousarei dizer:
cego, fora eu bendito?
Como
olhar, a razão
Deus
me deu, para ver
para
além da visão
olhar
de conhecer».
«Se
ver é enganar-me,
pensar
um descaminho,
não
sei. Deus os quis dar-me
por
verdade e caminho».
Poemas de Fernando Pessoa in ‘Odes / Rícardo Reis e Cancioneiro’
«Não
tenho pressa. Pressa de quê?
Não
têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter
pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
ou
que, dando um pulo, salta por cima da sombra».
In Alberto Caeiro
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