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Por isso é que vai ter problemas, replicou Helen, secamente. Mas, ao ver como
Betty olhava para ela com perplexidade, pousou-lhe a mão no ombro num gesto
tranquilizador. Estava só a brincar! Enquanto a colega parecia ficar mais
descontraída, o olhar de Helen foi atraído pela imagem do monitor à sua frente.
O que parecia uma metade sobredimensionada de uma noz aberta era, na realidade,
um corte transversal do seu próprio cérebro. No canto superior direito, viu o
seu nome: Helen Morgan. Era a primeira vez que via assim o seu cérebro. Entre
contornos cinzentos que pareciam cristais brilhavam zonas de um vermelho-amarelado
como se fossem pequenos incêndios. É a tua primeira ressonância magnética?,
perguntou Betty, com um tom de inconfundível preocupação na voz. Era evidente que,
apesar da tentativa de Helen de minimizar o incidente, ela tentava saber o que
se passara. Já te disse, precisava de ir à casa de banho... Não me refiro a
isso. Betty inclinou-se para a frente, para ver melhor um pormenor no monitor à
sua frente. Mas a isto aqui. Helen sentiu o coração a acelerar-se ao olhar, com
Betty, para a imagem do seu cérebro. Reparava agora no que antes deixara
visivelmente passar. A alguns centímetros das zonas coloridas, no lado direito
do cérebro, destacava-se um ponto no conjunto da imagem. Um ponto que ela, como
neurologista, sabia bem que não devia estar ali. E era para aí que apontava o
dedo indicador de Betty. E, de imediato, soube o que significava aquele ponto
vermelho-claro da dimensão de uma unha do dedo polegar. Betty voltou-se para
Helen, observando-a com as sobrancelhas arqueadas. Helen ignorou-a, mantendo os
olhos fixos no ecrã. Lera muito, vira as imagens nos manuais e imaginara que
seria assim. Mas o que agora via diante de si, e no seu próprio cérebro,
causava-lhe um medo maior do que há muito antecipara. Teve a sensação de que o
dedo de Betty, que ficara imóve1 mesmo no centro da imagem do seu cérebro, a
tocava no interior do crânio. Helen nunca pensara que a anomalia se deixasse
reconhecer tão bem e esperava que Betty não desse por ela. Dentro dela havia um
mistério clínico que deixava de estar agora tão escondido que era como se
tivesse sido exposto no placar de parede da sala comum. Iria custar-lhe algo
manter o segredo. Sem desviar o olhar do ecrã, Helen estendeu a mão direita e
empurrou com força a porta ao seu lado, fazendo com que se fechasse com estrondo.
Diante dos seus olhos cintilou um clarão amarelo. Betty sobressaltou-se e
voltou-se para ela. Que dirias se, no fim de semana, eu vos deixasse o
laboratório, a ti e ao Claude, para as vossas gravações musicais? Um sorriso
enorme fez dançar as sardas do rosto de Betty.
San Antonio
Não te
sentes bem, Madeleine? Sê sincera comigo!, parecia dizer o olhar do médico. Madeleine
abanou energicamente a cabeça. Desta vez não devia mentir. Sentia-se bem. Nas últimas
semanas, sentira-se melhor de dia para dia. Graças às sessões com o médico. Mas
também a Brian. Com este pensamento na sua cabeça de cabelos castanhos revoltos,
o coração até saltou. Sinto-me realmente bem. Mesmo bem, disse, com voz firme, sustendo
o olhar do dr. Reid. A expressão de cepticismo do rosto dele deu lugar a um sorriso.
Isso é bom. Isso é mesmo muito bom, comentou, olhando para o dossiê com os documentos
que tinha no colo como se aí procurasse uma referência. Madeleine endireitou o pescoço
e julgou ver um cheque no meio dos papéis. Talvez fosse da sua mãe, para pagar o
internamento na clínica. O olhar desviou-se para o relógio, pendurado por cima da
porta. Já passavam cinco minutos das 15h 30. Às 16h ia encontrar-se com Brian
no parque da clínica. Como demorava o ponteiro dos minutos a mexer-se!» In
Tibor Rode, O Vírus Mona Lisa, 2016, Topseller, 20/20 Editora, 2016, ISBN
978-989-883-989-3.
Cortesia de
Topseller/20/20E/JDACT