(continuação)
Um balanço incerto
«Sobre Flor da Rosa, Forbes Skellatei comenta:
- ‘A expedição de Flor da Rosa era de sua natureza muito difícil e arriscada; mas por isso mesmo devia aquele comandante dobrar as suas cautelas, para ser avisado com bastante antecipação da chegada dos inimigos, a fim de poder seguir um partido, que sem se afastar das instruções que tinha, ou salvasse a tropa que mandava, ou resistisse defendendo-se enquanto tivesse munições. Porém, o que geralmente consta é que ele se descuidou em tomar cautelas precisas, e que não fora avisado da chegada dos espanhóis, se não no momento de ser atacado. Não conheço o lugar da acção, mas sendo uma povoação imagino que o dito comandante teria ali meios de defesa por muito tempo, causando grande perda aos inimigos, cuja principal força era a cavalaria’.
Prõssegue depois:
- ‘As relações que o dito coronel apresenta destas duas acções me parecem extremamente exageradas, e são pouco conformes ao que é constante neste Exército; portanto, julgo que não será justo nem conveniente dar a este coronel a recompensa que ele pretende, quando a voz pública, e os sucessos, o não favorecem’.
E acrescenta, com certa benevolência:
- ‘Devo contudo acrescentar que as circunstâncias em que se achou comprometido, o zelo, boa vontade e valor que mostrou, sempre que foi empregado, o fazem digno da indulgência de Sua Alteza Real, para que se não entre em averiguações destes factos, de que lhe poderiam resultar alguns danos, se não como particular, ao menos como Comandante’.
Epílogo
Carcome Lobo
prosseguiu uma carreira militar que se adivinhava destinada a voos modestos.
Mas o evoluir da situação internacional ir-lhe-á possibilitar uma ascensão
inesperada. Em 1806 ainda era coronel, servindo no Regimento de Infantaria de
Linha n.º 15. Um ano depois, a 24 de Junho, era promovido ao posto de
Brigadeiro de Infantaria. Com a fuga de família real para o Brasil e a entrada
das tropas francesas em Lisboa, iniciou-se um novo período na vida de José Carcome. Paradoxalmente, foi o seu
momento de glória, proporcionado por aqueles contra cuja política combateu na Guerra
das Laranjas. Junot, na sua
qualidade de general-em-chefe, promoveu-o a marechal de campo, l - 4 - 1808, e
com esse posto desempenhou um importante papel na organização da Legião
Portuguesa, um dos vários corpos de tropas estrangeiras que combateram sob os
auspícios de Napoleão, e que, no caso português, foi inicialmente comandado
pelo marquês de Alorna.
Sobre a Legião Portuguesa existem diversas obras nas quais
encontramos algumas alusões a José
Carcome.
P. Boppe, no seu
estudo exaustivo Le Légion Portugaise 1807-1813, para além de vários relatórios
daquele militar, publica na parte final uma curiosa nota biográfica que foi,
certamente, elaborada a partir de informações fornecidas pelo próprio José Carcome no tempo em que serviu na
Legião, e que contém uma referência à ‘Guerra das Laranjas’.
Ainda em Portugal, e com a graduação de general de brigada
(1 - 8 - 1808), participou na organização daquele Corpo, ficando à frente da 2ª
Divisão. Comandou depois a 13ª Meia Brigada de elite organizada por decreto de
10 - 3 - 1809, e fez a campanha da Alemanha no exército do general Oudinot, tomando
parte, juntamente com dois batalhões portugueses, na batalha de Wagran, 6 - 7 - 1809,
contra os austríacos. O comportamento dos legionários nesse combate foi
brilhante, reflectido nas elevadíssimas baixas sofridas, e impressionou favoravelmente
Napoleão. Na peleja, Carcome Lobo ficou ferido no braço
esquerdo, embora se levantassem algumas dúvidas quanto à efectividade desse
ferimento. Ribeiro Artur reproduz o
depoimento coevo de um dos oficiais da Legião, José Garcez Pinto Madureira:
- ‘D. José Carcome apareceu de braço ao peito, mas Garcez que toma à sua conta o velho general, põe em dúvida esse ferimento’.
In António Ventura, O
Combate de Flor da Rosa, Conflito Luso-Espanhol de 1801, Edições Colibri, C. M.
do Crato, 1996, ISBN 972-8288-23-9.
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