«Uma semana depois, a 13 de Março, pela bula Cum non Solum seria designado Giovani da Pian di Carpine,
que, como é bem sabido, seguiu viagem e cumpriu a sua missão. Nesta primeira
fase de aproximação aos mongóis, Inocêncio
IV escolheu Franciscanos e Dominicanos. Foi também a fase da Ásia Central.
NOTA: Entra na História, por assim dizer, a partir de 1245.
Sobre os primeiros anos da sua vida há a indicação no Árbol Chronologico, de J.
de Castro, tão só de que fôra Ministro Provincial da Província Franciscana de
Santiago de Compostela. A sua figura surge nítida a partir da Bula Dei
Patris Immensa de 1245 pela qual é designado Embaixador aos Tártaros, e
a partir desse ano ou do seguinte, é Penitenciário Apostólico em S. João de
Latrão. Em seguida, entre 1246 e 1248, esteve envolvido como Legado no Oriente
na contenda político-religiosa entre Roma e Bizâncio, função que desempenhou
com o agrado e confiança de Inocêncio IV. Terá regressado à Santa Sé em 1248
ou, 1249 para fazer o relato pessoal da sua missão no Oriente. O papa
incumbiu-o depois de uma missão junto do Senado e do povo romano. Em 1256 pregava
a cruzada em Espanha e finalmente em 1266 foi nomeado bispo residente em Ceuta.
Para esta resenha biográfica servi-me das Bulas Pontifícias respeitantes a frei
Lourenço, de que encontrei onze, todas do pontificado do Inocêncio IV e com
datas que vão de 1245 a 1252.
Mais tarde, com a consolidação do poder mongol no Cataio, a grande
figura franciscana que foi João de Montecorvino, primeiro bispo de Pequim, então
Khambalik, simbolizaria a transferência de ênfase das missões políticas para as
missionárias.
NOTA: O nome dinástico Yuan foi adoptado por Kubilai Khan em
1271 e foi Imperador da China em 1280. Os autores não concordam quanto à data
de início da dinastia, mas sim quanto ao seu termo, em 1368.
Foi a Pax Mongolica, alargada ao Cataio, apoiada num papa esclarecido
e com visão, numa ordem de religiosos dispostos à dádiva total, que permitiu
esse notável florescimento do cristianismo na China de finais do século XIII
até à segunda metade do seguinte. Lourenço
de Portugal aparece como figura de destaque neste quadro em que o Mundo mudava, nas ideias e nos
conceitos de estratégia global. A circunstância de não ter partido para a
missão à Ásia Central a que o papa o destinara retirou-lhe a luz da ribalta que
de outro modo certamente teria tido.
Pela mesma razão, os orientalistas passaram-lhe ao lado. Mas sem dúvida
merecia uma biografia que lançasse luz sobre a sua participação destacada nos
acontecimentos mais importantes dos tempos em que viveu. Como escreve Pisanu,
- (...) I'imporranza e il numero delle missioni affìdategli sono suffìcienti a considerarlo tra gli elementi piú in vista fra i confratelli del suo tempo e nessuno forse tra i Francescani ebbe maggiori poteri di lui, sicché e facile capire la stima che poteva godere fra i membri della Curia Papale.
Em época de vultos de tão grande dimensão, frei Lourenço de Portugal
terá sido um dos maiores.
Resumo
Pode considerar-se a Bula Dei Panis Immensa, de 1245, enviando
frei Lourenço de Portugal aos Tártaros,
como o impulso inicial que marcou o começo do século, Franciscano na
Ásia; e a queda da dinastia Yuan, em 1368, como o seu termo. Neste período de
123 anos há essencialmente duas linhas de força: uma primeira,
político-religiosa, que decorre ao longo de umas duas décadas e geograficamente
se confina à Ásia Central Mongol. E uma segunda, marcadamente missionária, que
surge a partir da dominação da China pelos Mongóis e da instauração da dinastia
Yuan com Kubilai Khan, em c. 1277, e que permite a criação, pela primeira vez,
da Sé Metropolitana em Khanbalik, e Sufragana em Zaiton.
No primeiro ciclo, as figuras determinantes e de maior relevo foram o papa
Inocêncio IV, São Luís, Rei de França, Lourenço
de Portugal, Carpine e Rubruck; no segundo, destacou-se a figura
excepcional de Montecorvino, primeiro arcebispo de Pequim. Aos franciscanos
se ficou a dever a heroicidade espiritual e física que tornou esse longínquo século
um exemplo até aos dias de hoje. O termo abrupto desse esforço na China
deveu-se sem dúvida à queda dos Yuan e ao desaparecimento do
espírito de tolerância que os caracterizou. Mas também à circunstância de não
terem os franciscanos conseguido inserir-se na população chinesa, criando nela
raízes.
A queda dos senhores Mongóis arrastou consigo o desaparecimento total,
durante mais de dois séculos, do cristianismo na China. Desse esforço apenas
ficou a memória e a admiração». In João de Deus Ramos, Portugal e a Ásia
Oriental, Fundação do Oriente, 2012, ISBN 978-972-785-102-7, Comunicação
apresentada no 3º Seminário sobre o Franciscanismo em Portugal, Abril de 1995,
ISBN 978-972-785-202-7.
Cortesia da F. Oriente/JDACT