D. Brites
«(…) Não rezam as crónicas nada sobre e sua infância, tão-pouco sobre a
educação que lhe teria sido ministrada por seus pais que, ainda assim, cremos
ter sido esmerada, na esteira da tradição dos fundadores da dinastia. É certo
que, na esfera da cultura, o infante João não deixou um rasto como seu
pai, João I, ou como seus irmãos Duarte e Pedro, mas tal não significa
que a sua formação tenha sido descuidada. Aliás, recordamos que o infante João,
na sequência do falecimento de D. Filipa em Odivelas, em 1415, foi acolhido na casa do futuro Eloquente. Igualmente desconhecemos os interesses ou aptidões de D.
Isabel, mas lembramos que em relação a seu irmão Fernando, conde de
Arraiolos, marquês de Vila Viçosa e futuro 2.º duque de Bragança, conhece-se
uma carta que dirigiu, em 1460, a Afonso
V, no contexto dos debates que então se verificavam em torno do prosseguimento
da política africana, em que fundamentou a sua argumentação com recurso aos
clássicos e à patrística. De qualquer modo, estamos, ainda assim, no campo das
conjecturas e apenes podemos afirmar que a infanta sabia ler e escrever.
Do domínio da escrita dá testemunho os documentos em que apôs a sua assinatura,
e em que não raras vezes adicionou algumas palavras precisando intenções ou
afirmando autoridade. No tocante à leitura, e à semelhança das suas familiares,
lia o breviário e, provavelmente, as obras piedosas, que se encontravam na
biblioteca do palácio de Beja, tais como a Vita Christi, de Ludolfo de
Saxónia, ou a Contemplação de Nossa Senhora, de São João Boaventura.
De novo no seio da família: o casamento na Casa Real
O infante João faleceu cedo, em Outubro de 1442, deixando a sua viúva o encargo de seus filhos: Diogo, D.
Isabel, D. Brites e D. Filipa. Do destino de Diogo encarregar-se-ia o Regente
Pedro que, projectando desta forma a afeição que dedicara ao irmão dilecto,
o faria ascender ao mestrado de Santiago, para cujo cargo foi eleito a 24 de Janeiro
de 1443. Deteria o governo da Ordem
por um escasso período de tempo, pois a morte viria surpreendê-lo um ano
depois, sem haver tomado estado, ou ter deixado sucessão. D. Isabel, como
anteriormente se referiu, ascenderia ao trono de Castela. Todavia não era esta
e coroa com que seu avô, Afonso,
havia sonhado. Projectara, ao invés, um matrimónio com o rei português, D.
Afonso V, terçando armas que o levariam mesmo a deitar mão da calúnia que
pretendia manchar a reputação de sua sobrinha, também de nome Isabel, já
esposa do monarca, filha de seu meio-irmão, o Regente Pedro. Quanto a D.
Brites, o lance não era de menor monta. O noivo seria um primo directo,
Fernando,
terceiro filho varão do rei Duarte I, que o Regente, avisadamente, havia
feito jurar príncipe herdeiro em Tomar em 1438, precavendo-se contra um eventual insucesso do jovem monarca,
Afonso V recordando a elevada mortalidade infantil que grassava na época, e que
já anteriormente havia ceifado o infante João, primogénito real. Fernando
perfilava-se, assim, como segundo na ordem da sucessão, indo de novo alimentar
a secreta esperança de Afonso de Bragança de ver uma das suas netas
sentada no trono de Portugal, o que lavaria
a mancha de bastardia que incomodava a sue linhagem. D. Filipa, a mais moça,
permaneceu solteira. Crê-se que ainda se teria negociado a sua união com seu
tio Afonso, marquês de Valença, primogénito do duque de Bragança, mas o projecto
acabou por gorar-se, dado o falecimento do presuntivo noivo». In Maria
Odete Sequeira Martins, D. Brites (Beatriz). 1429-1506, Mulher de Ferro,
Quidnovi, 2011, Via do Conde, ISBN 978-989-554-789-0.
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