Duquesa de Viseu e duquesa de Beja. Uma rica e poderosa dona
«(…) Poder que se espelhava no património do ducado, que aos bens anteriormente
descritos iria posteriormente acrescer a parte da herança do condestável Nuno
Álvares Pereira, adquirida por direito de sucessão aos familiares directos de D.
Brites: seus irmãos, Diogo e D. Filipa, ambos falecidos solteiros e sem
descendentes. É certo que a primeira herdeira de Diogo seria D. Isabel, a irmã
mais velha das meninas, mas esta era rainha de Castela, pelo que Afonso V
entendeu comprar-lhe a herança por 60 mil florins de ouro do cunho de Aragão,
evitando que esse património passasse a mãos estrangeiras. Do adquirido fez o
monarca doação a Fernando, a título de dote de casamento. Entravam, assim, na
posse da Casa de Viseu-Beja a vila de Almada, a vila de Loulé e seus termos,
com todas as suas rendas e direitos, incluindo os tributos de mouros e cristãos
que lavrassem no reguengo, as terres e julgados de Lousada e de Paiva, o
montado de Campo de Ourique, com todo o direito do cardo e do verde, a quintã e
paço de Belas, com todas as suas rendas, foros, tributos e padroados, a quintã
e paço de Azeitão, o reguengo e lugar de Colares, as rendas e direitos de Serpa
e a quinta de Alagoa Alva, sita no termo de Santarém, coutada com todas as herdades,
ribeiras e águas.
Mais tarde, já no estado de viúva, D. Brites iria adquirir diversos
bens de raiz nas vilas de Beja, Serpa, Moura, e seus termos, bens que, na sua
quase totalidade, legaria ao Mosteiro de Santa Maria da Conceição de Beja,
que fundou. Residiu D. Brites, grande parte da sua vida, em Beja, no paço edificado
por ocasião do casamento. Localizava-se no largo onde se erguia a Igreja de
Santa Maria da Feira, com as traseiras viradas para a rua que, por extensão,
tomou o nome dos nobres residentes: Rua dos Infantes. A sua casa era opulenta, ostentosa, e servida com tanta
magnificência (…) que dava a impressão de uma verdadeira Corte, constata
uma vez mais o conde de Sabugosa. Cremos também que deveria ter sido imponente.
Nem outra coisa seria de esperar dos duques, cuja linhagem, estatuto e atitude
se comparavam à Casa Real. E dizemos que devia, porque, infelizmente (é
sempre doloroso admitir a perda de património onde se inscreve a nossa História),
o peso dos anos não poupou o palácio e a degradação foi-se acentuando. Nos finais
do século XIX, apresentando já um estado deplorável, a Câmara de Beja,
aproveitando as leis emanadas no liberalismo, que determinaram a desamortização
dos bens das instituições eclesiásticas e monásticas, solicitou ao poder
central, em 12 de Abril de 1894, a
cedência do edifício e terrenos adjacentes para demolição, com vista ao
alargamento de ruas. Por despacho de 4 de Outubro do mesmo ano, o rei Carlos I
havia de deferir o pedido. Donde, da nobre residência de D. Brites apenas hoje
restam alguns vestígios, integrados ou recolhidos no Museu Regional de Beja,
denominado Museu Rainha D. Leonor, instalado, a partir de 1927, em
dependências que haviam pertencido ao extinto Mosteiro de Santa Maria da
Conceição: uma belíssima janela geminada de mármore cinzento, que se inseriu na
fachada do mosteiro, que Raul Proença classificou como um dos mais lindos e originais ajimeces do mourisco alentejano,
algumas pedras de armas e a reconstituição, a partir de uma parte original,
de uma grelhagem em terracota do antigo passadiço, composto por arcaturas cegas
de ladrilho e gelosias com ornatos geométricos e vegetalistas, que ligava o
palácio ao coro alto do mosteiro. Não podendo contemplar o palácio,
socorremo-nos da descrição de Túlio Espanca, que inventariou o
património artístico, nomeadamente do Sul de Portugal.
A fachada, onde se rasgava a porta principal, era dotada de uma magnífica
escadaria de pedra da região que, nascendo no tabuleiro do adro da Igreja de
Santa Maria da Feira e extradorso do paço, atingia em forma de leque de secção
pentagonal, o recinto público do Terreiro. Um terraço de grelhas de tijolo e
balcões geminados com arcos de ferradura dava acesso ao andar nobre, coberto
por telhado de quatro águas. Sobranceira à escadaria abria-se um ajiméz de arco em ferradura, em mármore
cinzento, denunciando a preferência pela arquitectura mudéjar. Um outro ajiméz,
em mármore branco, ornamentava também o palácio. Ao nível do andar nobre corria
um balcão, muito provavelmente também de estilo mudéjar, onde se abriam duas largas portas que comunicavam com o
salão de recepção. No piso térreo, que deitava para um espaçoso pátio,
localizava-se uma enorme sala, sustentada por colunas de tijolo. De cada lado
do pátio, situavam-se as habitações dos criados, as cocheiras e as arrecadações».
In
Maria Odete Sequeira Martins, D. Brites (Beatriz). 1429-1506, Mulher de Ferro,
Quidnovi, 2011, Via do Conde, ISBN 978-989-554-789-0.
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