Para a D. Flora e Filhas
Companheiros
Quero escrever-me de homens
quero calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho.
E quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados.
Deixo-vos
a paciência dos rios
a idade dos livros que não se desfolham.
Mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me às vezes viver.
Hei-de inventar
um verso que vos faça justiça.
Por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho.
Basta-me saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros.
Poema de Mia Couto, Moçambique, África, 1984.
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