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A crença generalizada de que os arquivos do Vaticano estão repletos de segredos
obscuros surgiu em 2003 com a publicação do romance de Dan Bown, O Código Da
Vinci, e depois com o filme baseado no livro. A história fictícia apresentava
um elaborado conjunto montado pela Igreja desde a época em que os cavaleiros
templários conspiraram com ela para eliminar as provas de que Jesus foi casado
com Maria Madalena, que tiveram uma filha, que a criança era o Santo Graal e
fora levada para a França; e que os seus descendentes, descendentes de Cristo,
estão a viver entre nós. Embora os factos do livro tenham sido apontados como
falsos ou enganosos, o efeito causado pelo romance e pelo filme foi o de
reforçar a crença de que o Vaticano faria qualquer coisa para evitar que seus
segredos fossem revelados. Apesar de O Código Da Vinci ter apresentado uma conspiração
imaginária, a história do Vaticano está repleta de factos reais que a Santa Sé
quer manter em segredo e de incidentes que curiosos querem transformar em
teorias fantásticas envolvendo assassinatos, papas envenenados, sexo ilícito,
conivência com nazistas, conspirações comunistas, ouro e tesouros artísticos
roubados, e outras histórias sórdidas que nada têm a ver com a verdade.
Organizado
cronológica e tematicamente, este livro explora a saga fascinante dos arquivos
ocultos do Vaticano para separar os factos das lendas e esclarecer as mentiras contidas
nos arquivos, desde relações sexuais de papas e padres, assassinatos em ordens sagradas,
escândalos financeiros e intrigas internacionais a histórias de óvnis e
profecias a respeito do fim do mundo.
Não
Lerás
Quando
o director Ron Howard solicitou permissão em 2008 para filmar Anjos e Demónios,
último thriller cinematográfico
baseado na obra de Dan Brown, no Vaticano e em igrejas de Roma, o arcebispo
Velasio De Paolis, presidente da Prefeitura dos Assuntos Económicos do Vaticano
na época, proibiu o uso de qualquer propriedade da Igreja em Roma. Ele disse
que o autor de O Código Da Vinci havia deturpado os evangelhos para
envenenar a fé. Afirmando que a premissa do romance, segundo a qual Jesus e
Maria Madalena se casaram e tiveram uma filha, é uma ofensa contra Deus, Paolis
declarou que seria inaceitável transformar igrejas em set de filmagens para que os seus romances blasfemos se transformassem
em filmes comerciais. Ele acrescentou que o trabalho de Brown fere os sentimentos
religiosos básicos. O padre Marco Fibbi, porta-voz da diocese de Roma, disse: normalmente
lemos o roteiro, mas desta vez não foi necessário. O nome Dan Brown foi
suficiente. Quando a versão cinematográfica de O Código Da Vinci foi lançada,
um alto oficial do Vaticano instigou todos os católicos romanos a boicotarem o
filme. Dizendo que o livro era gritantemente anticristão, o cardeal Ângelo
Amato, assessor próximo do papa Bento XVI, disse que era cheio de calúnias,
ofensas e erros históricos e teológicos em relação a Jesus, aos evangelhos e à
Igreja. (…) Se essas mentiras e erros tivessem sido dirigidas contra o Corão ou
o Holocausto, teriam provocado justíssima indignação mundial (…) Em vez disso, foram
dirigidas contra a Igreja Católica e os cristãos, e ficaram impunes.
Como
segundo líder mais importante na hierarquia do Vaticano, Amato insistiu para
que se fizesse um boicote semelhante ao que foi feito em 1988 contra A última
tentação de Cristo, dirigido por Martin Scorsese. Quando O Código Da Vinci foi
publicado em 2003, as lideranças católicas manifestaram-se contra. Nas semanas
que antecederam o lançamento do filme, a Opus Dei, grupo católico leigo cujos
membros são retratados como vilões na história, patrocinou fóruns e outros
eventos públicos para refutar a premissa do livro e negar as insinuações de que
o grupo é sombrio e hermético. A proibição para Howard filmar Anjos e Demónios
em qualquer igreja de Roma e no Vaticano, os protestos contra o livro de Brown,
e sua versão cinematográfica; são ecos de uma época em que o Vaticano exercia
poder inquestionável de controle sobre a disseminação do conhecimento por meio
de livros, o que se tornou possível graças ao processo de impressão com tipos
móveis. Inventada por Johannes Gutenberg em 1454, a prensa móvel revolucionou o
mundo da religião ao tornar a Bíblia amplamente acessível e levar livros
impressos ao mundo.
Essa
disseminação de material publicado levou a um esforço do Vaticano para determinar
o que os católicos poderiam ler. Isso foi feito com a publicação do Index
Librorum Prohibitorum (Índex de Livros Proibidos). Em vigor de 1559 a 1966,
o Índex relacionava os livros que os católicos não deveriam ter ou ler sob pena
de excomunhão. Durante a longa vida do Índex, observou um artigo da America,
The National Catholic Weekly, o púbico ficava a par do que fora banido, mas não
das razões. Atrás de portas fechadas, porém, funcionários do Vaticano
realizavam longas e às vezes acaloradas discussões a respeito dos livros do dia.
Depois de mais de uma década estudando o Índex, o reverendo Hubert Wolf, padre
diocesano e professor de história da Universidade de Münster, na Alemanha,
declarou: em nenhum outro lugar do mundo, uma instituição tentou controlar um
meio de comunicação do mundo moderno, o livro, por mais de 400 anos. Os
registros com as discussões realizadas pela Igreja em torno de milhares de
livros oferecem uma visão única do pensamento do Vaticano sobre teologia,
filosofia, história, política, ciência e literatura mundial ao longo de
séculos. Guardados num porão do que já foi conhecido como Santo Ofício e agora
é chamado de Congregação para a Doutrina da Fé, os arquivos ficaram fechados
aos investigadores de fora durante séculos. A formação dos arquivos começou de
facto com a Inquisição (maldita), em 1542, para
combater a Reforma protestante iniciada quando Martinho Lutero desafiou a
autoridade papal. Depois de pregar as suas 95 teses na porta da igreja em
Wittenberg, Alemanha, em 1515, elas foram impressas em Leipzig, Nuremberg e
Basileia e distribuídas amplamente. O Santo Ofício logo ficou sobrecarregado
pela mistura de imprensa e autores protestantes prolíficos que as usaram para desencadear
uma explosão editorial tão influente na época quanto a internet é hoje. O Vaticano criou outro ofício, a Congregação do
Índex, para lidar apenas com livros, em 1571». In Paul Jeffers, Mistérios
Sombrios do Vaticano, 2012, tradução de Elvira Serapicos, Editora Jardim dos
Livros, 2013, ISBN 978-856-342-018(7)-3(6).
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