jdact
No
Oriente
«[…]
E,
lá entre si, por dura se julgasse:
Isto
só que soubesse, me seria
Descanso
para a vida que me fica!
Com
isto afagaria o soffrimento!
Ah
Senhora! Ah Senhora! E que tão rica
Estais,
que cá, tão longe de alegria,
Me
sustentais com doce fingimento!
Logo
que vos figura o pensamento,
Foge
todo o trabalho e toda a pena.
Só
com vossas lembranças,
Me
acho seguro e forte
Contra
o rosto feroz da fera morte!
E
logo se me juntam esperanças,
Com
que, a fronte tornada mais serena,
Torno
os tormentos graves
Em
saudades brandas e suaves.
Aqui,
com ellas, fico perguntando
Aos
ventos amorosos, que respiram
Da
parte donde estais, por vós. Senhora;
Ás
aves, que d'alli voam, se vos viram,
Que
fazieis, que estáveis praticando,
Onde,
como, com quem, que dia e que hora?
Alli
a vida cansada se melhora,
Toma
espiritos novos, com que vença
A
fortuna e trabalho,
Só por
tornar a ver-vos,
Só por
ir a servir-vos e querer-vos.
Diz-me
o tempo que a tudo dará talho;
Mas o
desejo ardente, que detença
Nunca
soffreu, sem tento
Me abre
as chagas de novo ao sofrimento,
Assi
vivo e se alguém te perguntasse,
Canção,
porque não mouro,
Podes-lhe
responder que porque mouro (morro de saudades e comtudo são ellas que me dão vida).
São,
creio eu, contemporâneas da canção 10.ª as seguintes redondilhas:
Mote (alheio)
Trabalhos
descansariam,
Se
para vós trabalhasse,
Tempos
tristes passariam,
Se algum'hora
vos lembrasse.
Glosa
Nunca
o prazer se conhece,
Senão
depois da tormenta.
Tampouco
o bem permanece,
Que,
se o descanso florece,
Logo
o trabalho arrebenta.
Sempre
os bens se lograriam,
Mas os
males tudo atalham,
Porém,
já que assi porfiam.
Onde
descansos trabalham,
Trabalhos descansariam.
Qualquer
trabalho me fôra,
Por vós,
grão contentamento;
Nada
sentira. Senhora,
Se vira
disto algum'hora
Em vós
um conhecimento.
Por
mal que o mal me tratasse,
Tudo
por bem tomaria;
Posto
que o corpo cansasse,
A alma
descansaria,
Se para vós trabalhasse.
Quem
vossas cruezas já
Soffreu,
a tudo se pôs.
Costumado
ficará
E muito
melhor será,
Se trabalhar
para vós.
Tristezas
esqueceriam,
Posto
que mal me trataram;
Annos
não me lembrariam,
Que,
como est'outros passaram,
Tempos tristes passariam.
Se fosse
galardoado
Este
trabalho tão duro,
Não vivera
maguado.
Mas não
o foi o passado,
Como
o será o futuro?
De cansar
não cansaria,
Se quiséreis
que cansasse;
Penar,
morrer, fa-lo-ía;
Tudo,
emfim, esqueceria,
Se algum'hora vos lembrasse.
[…]
In José Maria Rodrigues, Camões e a Infanta
D. Maria, Separata do Instituto, Imprensa da Universidade de Coimbra, Coimbra,
1910, há memória do Mal-Aventurado Príncipe Real Luís Philippe (3 1761
06184643.2), PQ 9214 R64 1910 C1
Robarts/.
Cortesia
do AHistórico/UCoimbra/JDACT