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Em 1355 encontramos outra referência do cronista a Martim Afonso Telo. A rainha
dona Maria estava em Toro acompanhada de Martin Alfonso Tello, que era natural de
Portogal, é viniera com la Reyna Doña María quando ella vino de Portogal, segundo
dicho avemos. De Toro, dona Maria pediu aos seus enteados, Henrique Trastâmara Fradique,
que fossem ter com ela àquela cidade, antes de o rei seu filho lá chegar, pois
temia que este se vingasse da protecção que ela lhes tinha prestado
anteriormente. Estes acederam e foram ter com a rainha. Em 1356, a rainha
continuava em Toro, com Martim Afonso Telo, a condessa dona Joana, mulher de Henrique
Trastâmara e outros cavaleiros. A aproximação do rei de Castela fê-los ir para a
alcáçova da cidade, onde julgaram estar mais protegidos. Pedro I e os seus escudeiros
entraram em Toro e mataram diversos cavaleiros que estavam contra o rei. Ao chegar
à alcáçova, o rei exigiu que a mãe viesse ao seu encontro. Maria ainda tentou negociar
o perdão dele para os homens que a acompanhavam, mas o filho mandou-a ir ter
com ele, acrescentando que logo saberia o que fazer com os cavaleiros em
questão. O resultado foi a morte destes, aos pés de dona Maria e de dona Joana,
situação que provocou o desmaio às duas senhoras. Um desses cavaleiros foi
Martim Afonso Telo. Ao recuperar os sentidos, a rainha amaldiçoou o filho e a vida
e desejou morrer. Dias depois, Maria pediu ao filho que a enviasse para Portugal;
o que de facto veio a suceder. A 10 de Janeiro de 1357 a rainha parece ter estado
em Toro, segundo a Crónica de Alcântara, mas o Cronicon Conimbricense
e a História genealógica da Casa Real portuguesa referem que a 18 de
Janeiro a rainha dona Maria faleceu em Évora, depois de ter ido visitar os pais
a Leiria.
A Crónica
do rei Afonso IV (1325-1357) confirma que Maria faleceu viúva em Évora, mas
não indica o ano. Acrescenta só que o corpo foi depois trasladado para a Capela
dos Reis em Sevilha. A Crónica de Pedro I, de Fernão Lope, indica que Pedro
I de Castela pediu ao seu homónimo, o rei Pedro I de Portugal, seu tio, logo que
este começou a reinar, que lhe enviasse o corpo da mãe, para o sepultar ao lado
do de seu pai, o rei Afonso XI, na Capela dos Reis, em Sevilha. Solicitou igualmente
o envio das joias pertencentes a dona Maria. A História genealógica da Casa
Real portuguesa afiança ainda que no testamento da rainha, outorgado a 8 de
Novembro de 1351 (um ano depois de ficar viúva), Maria solicitava ser sepultada
na dita capela, ao lado do marido, mas que, se este fosse trasladado para outro
lugar, fizessem o mesmo com ela. Esta fonte não fez qualquer alusão ao adultério
de Maria com o pai de Leonor Teles, antes descreveu a rainha como uma mulher que
sempre dedicou ao marido o seu amor, quer em vida deste, quer depois da sua morte.
Pero López Ayala também referenciou o óbito de Maria em 1357, e acrescentou-lhe
um dado curioso, de que não encontrámos menção nas fontes portuguesas acima mencionadas:
Maria morreu vítima de envenenamento causado pelo próprio pai, o monarca Afonso
IV de Portugal: segund fué fama, dixeron que el Rey Don Alfonso de Portogal,
su padre della, le ficiera dar hierbas con que moriese, por quanto non se pagaba
de la fama que se oia della. O rumor era, pois, o adultério de Maria com
Martim Afonso Telo, o pai de Leonor Teles.
O nascimento
de Leonor Teles
Do nosso
ponto de vista, consideramos credível que Leonor fosse natural de Trás-os-Montes.
Vejamos os factos: na carta de doação de Vila Real de Trás-os-Montes dada a Leonor
Teles, no ano de 1375, Fernando apresentou dois motivos para o acto: a obrigação
que o casamento implicava e que o levou a ter de dar bens à rainha para ella
sofrer os encargos que escusar nom poder; o facto de Leonor ser natural de Trás-os-Montes
e ter lá muitos parentes. Leonor teve antepassados com ligação a Bragança e a Trás-os-Montes.
Afonso Teles Córdova, filho do primeiro casamento de Afonso Télez (o quarto avô
paterno de Leonor Teles), surge em 1258 como tenente de Bragança. Por outro lado,
o irmão de João Afonso Telo I (o trisavô paterno da rainha dona Leonor Teles) foi
Martim Afonso, que foi tenens de
Santa Maria, Bragança e Montenegro. Por fim, Afonso Martins Telo (avô paterno da
rainha) casou com Berenguela Lourenço, de Valadares. Esta família dos Valadares
possuía importantes territórios no Norte de Portugal, nomeadamente em Trás-os-Montes,
através de ligações matrimoniais estabelecidas com os senhores de Chacim. Leonor
possuía, pois, relações familiares com a dita comarca, que prosseguiram ao longo
da vida, já que a sua filha Beatriz foi presenteada por seu pai com a vila de
Bragança em dote de casamento». In Isabel Pina Baleiras, Uma Rainha
Inesperada, Leonor Teles, Temas e Debates, Círculo de Leitores, 2013, ISBN
978-989-644-230-9.
Cortesia
de CLeitores/Temas e Debates/JDACT