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«A história das sociedades secretas
é a história da religião esotérica e é também a história da magia. Quaisquer
que sejam as suas actuais práticas e ensinamentos, aspecto e prioridades, a maior
parte das sociedades secretas tem raízes religiosas. A religião é tão antiga como
o homem, e o ofício de sacerdote compete com o de prostituta e o de espião pelo
título de mais velha profissão do mundo. O presente capítulo analisa brevemente
algumas das muitas influências religiosas nas actuais sociedades secretas,
desde o início dos tempos até finais da Idade Média. Note-se que as datas
apresentadas para alguns dos primeiros mestres e autores variam de fonte para
fonte. Além disso, as mitologias, filosofias e movimentos religiosos do presente
capítulo não se seguem, necessariamente, por ordem cronológica; muitos sobrepõem-se.
Sociedade primitiva
As origens da religião são, a um tempo,
externas e internas. O homem primitivo estava muito mais à mercê dos elementos
do que nós, sendo o seu quotidiano afectado por trovões, relâmpagos, vento,
chuva, inundações e seca. Acima dele estava o céu, com os mistérios do Sol durante
o dia, e a Lua e as estrelas à noite. O que eram essas luzes? Porque se deslocavam
pelo firmamento em diferentes alturas do dia, do mês e do ano, e porque
variavam de brilho, forma e dimensão? O calor e a luz do Sol davam vida. Como
ter a certeza de que voltaria a recuperar a sua força geradora depois de passar
pelo ponto mais fraco, a meio do Inverno? Enterramos uma semente e ela
transforma-se em alimento. O cereal morre, e depois volta a ganhar vida.
É fácil perceber como se desenvolveram
os deuses: a partir dos grandes poderes da natureza, poderes que fogem ao controlo
do homem. Poder-se-ia fazer pedidos a esses poderes? Responderiam favoravelmente,
caso se fizessem sacrifícios? Qual seria o modo mais eficaz de abordar tais
poderes? Seria perigoso? Poderia qualquer um fazê-lo, ou seria preciso um especialista,
uma competência, uma arte, um poder? E assim nasceram os sacerdotes.
O homem queria ainda respostas para
outras questões. O que acontece quando alguém morre? Eu vou morrer? O que me acontecerá
quando eu morrer? A haver vida depois da morte, que forma ela assumirá? Onde é?
É boa ou má? Como posso ter a garantia de que vai ser boa? Se há vida depois da
morte, houve vida antes do nascimento? Se as colheitas vivem e morrem e voltam à
vida, será o mesmo verdade para as pessoas? E ainda mais questões. Para onde vou
nos meus sonhos? Porque não posso trazer coisas de lá? Os sonhos prevêem o futuro?
Quem me poderá revelar o seu significado? Além disso, numa altura em que um ferimento
ou uma doença poderiam facilmente levar à morte, quem conhecesse o tratamento correcto,
as ervas certas, era merecedor de honras, tornava-se um dos mais importantes elementos
da tribo.
O sacerdote, ou xamã, ou
curandeiro, conhecia os rituais adequados para garantir que o Sol voltava todos
os anos. Ele sabia como trazer chuva, como conseguir uma boa colheita ou uma
boa caçada, como alcançar uma vitória contra uma tribo vizinha. Conhecia o significado
dos sinais e dos presságios, o sentido oculto dos sonhos; e nos seus próprios sonhos
viajava, a seu bel-prazer, até à terra dos espíritos. Sabia curar e amaldiçoar.
Era um homem sábio, que até o chefe da tribo procurava em busca de conselhos. Ninguém
vive para sempre, pelo que uma das tarefas mais importantes do sacerdote, tendo
o bem-estar da tribo presente, era formar um sucessor nas artes complexas do seu
mister. À medida que esse papel se foi tornando mais poderoso, também o
conhecimento passou a ser mais bem guardado; criava-se a ligação entre o poder e
o secretismo.
As
sociedades desenvolveram-se e tornaram-se mais complexas, e o mesmo aconteceu às
formas exteriores, mais públicas, da religião, a religião exotérica, bem como ao
conhecimento secreto e ao secretismo do conhecimento, no cerne da religião, a religião
esotérica. Esses dois aspectos tornaram-se cada vez mais distintos, até que os segredos
internos da religião foram escondidos não só do público, mas também de grande
parte dos sacerdotes». In David V. Barrett, As Grandes Sociedades
Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor, 2016, ISBN 978-989-724-333-2.
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