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«(…) Um deles travou com violência
no lado sul da Torre Redonda. Outro apareceu mais ao fundo da Köbmagergade,
bloqueando qualquer tentativa de fuga para norte. O ladrão estava agora
confinado à praça onde se erguia a torre. Parou para avaliar a situação e
depois correu para a direita e desapareceu no interior do edifício. O que
estaria o idiota a fazer? Não havia saída para além da porta do rés-do-chão.
Mas talvez o homem da faca não soubesse disso. Malone correu para a entrada. Conhecia
o homem da bilheteira. O norueguês passava muitas horas na sua livraria, a literatura
inglesa era a sua paixão. Arne, para onde foi aquele homem?, perguntou em
dinamarquês, a arquejar.
Passou por aqui a correr sem
pagar. Está alguém lá em cima? Um casal mais velho subiu um pouco antes. Não
havia elevador ou escadas para o topo. Em vez disso, existia uma passagem em
espiral instalada originalmente para que os enormes instrumentos astronómicos
do século XVII pudessem ser levados para cima. A história que os guias turísticos
locais gostavam de contar era que Pedro, o Grande, a subira a cavalo e que a
imperatriz o seguira num coche. Malone conseguia ouvir o eco de passos vindos
do andar de cima. Abanou a cabeça ao pensar no que o esperava. Diz à Polícia
que estamos lá em cima. Começou a correr.
A meio da subida passou por uma
porta que dava para a Sala Grande. A entrada de vidro estava trancada e as
luzes apagadas. As paredes exteriores da torre possuíam janelas duplas
ornamentadas, mas tinham todas grades de ferro. Pôs-se de novo à escuta e
continuou a ouvir passos de corrida vindos de cima. Avançou, a respiração
tornando-se-lhe mais apressada e pesada. Quando passou por uma representação
planetária medieval afixada na parede, abrandou o passo. Sabia que a saída para
a plataforma do telhado ficava apenas a alguns metros de distância, ao virar da
última curva. Deixou de escutar passos.
Continuou em frente e atravessou
a arcada. Ao centro, erguia-se um observatório octogonal, não do tempo de Cristiano
IV, mas de construção mais recente, com um terraço grande a toda a volta. À
esquerda, uma vedação de ferro decorativa contornava o observatório e a única
entrada existente encontrava-se fechada com uma corrente. Para a direita, ao
longo da orla da torre, estendia-se um corrimão trabalhado. Para lá do corrimão
cresciam os telhados vermelhos e os pináculos verdes da cidade. Contornou a
plataforma e viu um homem idoso deitado no chão em decúbito ventral. Para lá do
corpo, o homem da faca refugiava-se atrás de uma mulher idosa, segurava-a com
um braço e mantinha a faca encostada ao pescoço dela. A mulher parecia querer
gritar, mas o medo embargava-lhe a voz.
Não
se mexa, aconselhou Malone em dinamarquês. Observou o seu opositor. Tinha o
mesmo olhar assombrado e gotas de suor brilhavam-lhe no rosto com a luz do Sol.
Tudo indicava que Malone devia manter-se afastado e o som de passos vindos do
andar de baixo anunciava que a Polícia estaria ali dentro de alguns minutos. E
que tal acalmar-se?, perguntou Malone, tentando comunicar em inglês. Viu que o
ladrão o entendeu, mas a faca não se afastou do alvo. O olhar dele não parava
quieto e ora mirava o céu, ora o espaço vazio atrás de si». In Steve Berry, O Legado
dos Templários, 2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN 978-972-203-808-9.
Cortesia PdomQuixote/JDACT