Cortesia
de wikipedia e jdact
«A despeito da nova filosofia da
infância que preconizam os filósofos J-F. Lyotard, Gilles Deleuze e Giorgio
Agamben, as crianças com as quais deparamos no quotidiano continuam a ser uma
incógnita na segunda Modernidade, no segundo pós-guerra. O filósofo Alain
Renaut aponta este facto sem imputá-lo totalmente, como Hannah Arendt (La crise
de la culture) à extensão à Infância da Declaração dos Direitos Humanos. Este
projecto parte de uma aposta: uma vez admitido o postulado de uma função
cognitiva da Literatura e das Artes, haverá possibilidade de investigar no
plano da literatura comparada certas narrativas autobiográficas suficientemente
ricas na sua forma-conteúdo para sugerir mediante modelos de infância
imaginária hipóteses fecundas para a compreensão da infância em construção nos
nossos tempos. Temos escolhido para cumprir essa tarefa, ao lado da brasileira
Lya Luft, a escritora francesa Nathalie Sarraute e o ficcionista canadense Jacques
Ferron. Fomos estimulados a testar aquele postulado pela ideia de Literatura Aplicada
defendida desde 1990 pelo professor Pierre Bayard. Para além do citado Alain Renaut,
termos como apoio teórico cientistas sociais como Jean-Pierre Kaufmann,
François Singly, Claude Dubar para interrogar a identidade infante e
adolescente assim como o processo de socialização e principalmente dois
filósofos: Paul Ricoeur, sua narratologia e sua Hermenêutica fenomenológica;Jean-Jacques
Wunemburger e sua Mitodologia. Está prevista um efeito multiplicador dos
resultados através de colóquios e publicações anuais» In Resumo
«Eric Deschavanne et Pierre-Henri
Tavoillot, dois professores de Filosofia da Sorbonne, depois de invalidar
certas declarações de Philippe Áriès sobre o desconhecimento da infância na
Idade Média, contesta igualmente a afirmação de que teria havido uma radical Invenção
desta categoria social nos tempos modernos. Eles alertam também quanto à ambivalência
das conquistas da nossa Modernidade a favor das crianças, conquistas estas que
se iniciaram com o Cristianismo. Pois o triplo ganho em humanização, liberação
e individualização pagou-se paradoxalmente a um preço muito alto. Temos hoje
mais dificuldade a entender o que é a criança, o que é a sua identidade. É irrecusável
que a promoção das crianças ao estatuto integral de indivíduo humano livre
abriu uma caixa de Pandora, não mais sabemos o que é o adulto, o que é o fim da
infância como fase da vida, nem as características de adulto. Entramos na era
do Jeunisme /jovenismo, uma ideologia da juventude que repudia qualquer
suspeita de ultrapassagem de uma praia da vida eternamente jovem, que comanda
que devamos entrar na onda da última moda. O jeunisme que se experimenta
principalmente por aqueles que teriam chegado no fim da adolescência está
alicerçado numa gaya ciência para além do bem e do mal, cujo leme é: juventude
além de tudo! É uma nova mentalidade que se instala. Nós a identificamos pelo
jeito de pensar (se a palavra pensar não fosse desusada), de se vestir, pelo hybris
pela exuberância que caracteriza os gestos, os movimentos, os encontros
festivos e barulhentos, enfim pela maneira extravagante, arrogante, anti-adulto
de estar-no-mundo. Essa epidemia já contaminou aqueles, Homens e Mulheres que,
uns tempos atrás, hasteavam bem alto a bandeira do adulto. O amadurecimento
virou uma balela. Os pequenos observando o comportamento das gerações
anteriores. deram uma resposta à altura: decidiram permanecer crianças, com
privilégios de gente grande. Um estranho mito de Peter Pan domina a mentalidade
dos 7 a 50 anos. Perdemos a especificidade da criança; perdemos consequentemente
a possibilidade de educar. Neste novo rumo das coisas, a situação da infância
se complica junto ao caos que se deu nas outras fases de existência privadas de
referência. Sem aderir nem à nostalgia de um hipotético outrora mais
equilibrado, nem a um progressismo radical, examinaremos a questão da
identidade criança nos diferentes meios de actuação, nos diferentes lugares de
socialização, à luz da ficção autobiográfica, com a bússola da Mitocrítica e da
Narratologia. Utilizaremos também certos recursos da Filosofia e das Ciências
Humanas». In Sébastien Joachim, A invenção da infância nas narrativas
autobiográficas de Lya Luft, Anais do IV Colóquio Internacional Cidadania
Cultural, diálogos de gerações, 2009, Editora Eduepb, 2009, ISBN 217-6590-1.
Cortesia de EEduepb/JDACT