Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia a Mónica Maria Cabral
A
Ilha. O Mar. A Emigração
«O
conto literário de temática açoriana reflecte uma visão do mundo particular, resultante
de condições geográficas, geológicas, climáticas, sociais, históricas e
culturais. A análise dos textos permitiu-nos detectar recorrências temáticas inspiradas
em impressões e experiências reiteradas relacionadas com a realidade
circundante, as quais requisitam, constantemente, a expressão literária. A
ilha, perspectivada eufórica e disforicamente, o mar e a emigração constituem
elementos centrais no imaginário açoriano. O presente trabalho identifica e
estuda as imagens e os temas mais importantes na trajectória deste conto,
mostrando até que ponto se pode falar de uma tradição literária açoriana no
contexto da literatura portuguesa». In Resumoo
A
Ilha. O Mar. A Emigração
Os primeiros sinais de vitalidade temática
«A história literária dos Açores
deverá começar com Gaspar Frutuoso (1522-1591), jesuíta doutorado em Salamanca,
que, passado menos de um século do povoamento das ilhas, começa a escrever
crónicas, poesia e até uma novela à maneira de Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro, integrada nas suas Saudades da Terra, Livro Quinto.
As condições de vida nos Açores até à era liberal são pouco favoráveis a
manifestações de carácter literário, pelo que somente três séculos após
Frutuoso é que se cria um ambiente propício ao desenvolvimento da literatura (entre
o século XVI e meados do século XIX, à excepção de Frutuoso, tudo o resto se
leva na conta dos recreios de oratória, formando um espesso enredemoinhado onde
será pouco aconselhável penetrar; as parcas manifestações de criatividade aí
existentes logo se enredam na tal convicção circular, em torno de instrumentos
místicos, aí instituídos como dogma e mais não; quase três séculos para diante,
e o panorama não é significativamente diverso: aí abunda ainda esse subproduto
de talha fradesca e seus apêndices ideológicos, apostado numa marca emblemática
de condicionante religiosa tão concentracionária quanto erudita). Por isso,
podemos dizer que a ficção literária açoriana nasceu, verdadeiramente, no
século XIX, que, de acordo com João Melo, constitui o período inaugural por
excelência de uma novelística que conhecerá sucessivas variações temáticas, até
se fixar na reposição do viver insulano, perscrutando-o dos seus sensíveis
quadrantes. A cidade da Horta, com o seu ar cosmopolita, pólo de dinamismo
cultural e de comunicação com o exterior, apresenta, na segunda metade desse
século, condições (surge, nessa altura, como um centro de contactos com o
exterior, promovendo uma grande abertura dinâmica a outros espaços físicos e
culturais; Pedro Silveira explica como esta cidade se tornou num centro cultural
de criação literária: a Horta, sobretudo, mercê dos seus antecedentes, a
navegação que parava pelo seu porto, levando aos naturais as ideias da
Revolução francesa e os produtos das Culturas europeias, principalmente
anglo-saxónica e galesa, estava bem preparada para poder ser o berço da nova
literatura açoriana; e foi aí, efectivamente, que surgiram os primeiros ficcionistas
insulanos) que permitem o surgimento de periódicos, onde se começa a publicar
contos e capítulos de romances. E é nessa pequena cidade que surgem os primeiros
ficcionistas, como António Lacerda Bulcão, o mais antigo contista açoriano, representante
da estética romântica, autor de uma vastíssima obra narrativa muito incompletamente
reunida em Colleccao de Romances
Originaes (1873), afinal mais contos que romances, ricos de
temática insular. Outros contemporâneos de Bulcão, como Augusto Loureiro e José
Torres, em São Miguel e na Terceira, escrevem trabalhos de ficção, inspirados
pela estética romântica, mas não possuem qualidade artística notável.
A
cultura açoriana sempre esteve ligada à fundação de órgãos de imprensa, que se afirmam
como verdadeiros pólos aglutinadores de gentes e ideias, logo a partir da
segunda metade do século XIX. De facto, nos Açores, inicialmente na cidade da
Horta, desenvolve-se uma imprensa precoce, que viria a condicionar a escrita
literária (os Açores tiveram mais de seiscentos jornais e revistas diferentes
ao longo da sua História; actualmente, um dos jornais diários, o Açoriano Oriental, é o segundo
mais antigo da Europa). O desenvolvimento da narrativa açoriana, neste período,
deve-se, em especial, aos chamados contistas da Horta, que, neste ambiente de
abertura a outros espaços e outras culturas, utilizam o jornal como meio de
divulgação da sua escrita». In Mónica Maria S. Cabral, O Conto Literário
de Temática Açoriana, A Ilha, O Mar, A Emigração, Universidade de Aveiro,
Departamento de Línguas e Culturas, Tese de Doutoramento, POPH/FSE, FCT, 2010,
Wikipedia.
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