Cortesia
de wikipedia e jdact
«No
segundo século antes de Cristo, Roma ainda era uma República, governada por patrícios
cujas famílias tinham ancestrais nos primeiros tempos da cidade, cerca de
seiscentos anos antes. A República foi formada quando do destronamento de um
rei de Roma em 509 a.C. e sobreviveu até ao estabelecimento do Império de
Augusto, perto do final do século I a.C. O principal corpo governamental era o
Senado, liderado por dois cônsules eleitos anualmente. Fora do Senado, havia
doze tribunos eleitos, representantes do povo comum (a plebs), que tinha poder
de veto sobre o Senado. As alianças e rivalidades complexas entre as famílias
patrícias (as gentes, singular gens), bem como entre os patrícios e a plebe, são
fundamentais para compreendermos a história de Roma nesse período, uma época em
que a conquista além-mar conferia uma visão tentadora de poder pessoal a
generais que por fim levaram à guerra civil no século I a.C. e a Otaviano
proclamando-se Augusto. O porquê de um império não ter sido estabelecido mais
de um século antes, quando os exércitos de Roma eram supremos e o seu general
de maior destaque, Cipião Emiliano Africano, tinha o mundo a seus pés, é uma
das perguntas mais fascinantes da antiguidade e pano de fundo da história neste
romance.
O exército romano desse período
ainda não era uma força profissional; as legiões eram convocadas entre os cidadãos
de Roma em resposta a determinadas crises. O exército só viria a assumir feições
profissionais em épocas de guerra prolongada, quando ficariam patentes as vantagens
de manter um exército de prontidão. Ao longo de todo o século II a.C., período deste
romance, havia tensão entre aqueles que temiam que o desenvolvimento de um exército
profissional pudesse levar a uma ditadura militar e os que viam nisso uma necessidade,
caso Roma viesse a ter o seu lugar em cena no mundo. Venceu, por fim, este último,
levando às reformas militares realizadas pelo cônsul Mário em 107 a.C. e à criação
das primeiras legiões permanentes.
Na época deste romance, os títulos
familiares de legiões do período do Império, como Legio XX Valeria Victrix,
ainda não existiam; as legiões criadas para campanhas específicas e dispersadas
depois delas podiam ter um número, mas isso não levava a sua identidade adiante.
A principal formação numa legião era o manípulo, unidade descartada por Mário em
favor da força armada, menor. O manípulo podia ser comparado à ala de
regimento britânico vitoriano, uma formação com cerca de metade do tamanho de
um batalhão de infantaria moderno que era de posicionamento mais rápido e mais
manobrável em batalha. A unidade principal dentro do manípulo era a centúria, o
equivalente aproximado de uma companhia de infantaria moderna.
Tradicionalmente, os homens de uma legião eram classificados pelas suas posses
e a sua idade, que iam dos vélites (batedores), mais pobres, passando pelos hastatis
e principes, até os mais abonados triarii, com cada categoria correspondendo ao
aumento da qualidade das armaduras e dos equipamentos, assim como às posições
na linha de batalha que normalmente eram mais expostas e perigosas para os mais
pobres e para tropas menos equipadas.
As centúrias eram comandadas
pelos centuriões, homens que ascendiam nas classificações com base na aptidão e
na experiência. Tinham a responsabilidade similar à de um capitão de infantaria
dos tempos modernos, mas são mais bem descritos como oficiais não comissionados.
O primipilo (da primeira classe) era o centurião mais antigo de uma legião, equivalente
a um sargento-mor de regimento. Outra classificação frequente era a optio, uma classe
subordinada aos centuriões com responsabilidades similares às de um tenente,
porém mais bem descritos como um sargento ou cabo. Havia um amplo abismo social
entre esses homens e os oficiais mais graduados da legião, que vinham de famílias
patrícias, para quem as nomeações militares faziam parte do cursus honorum
(a ordem de postos), a sequência de postos civis e militares que um homem
romano rico esperaria obter ao longo da sua vida.
Os
oficiais de patente mediana de uma legião eram os tribunos militares, jovens em
início de carreira ou homens mais velhos que se haviam apresentado como voluntários
em épocas de crise para servir ao exército, porém ainda não estavam em processo
de cursus honorum, no qual poderiam comandar uma legião. Esse papel
cabia ao legado, o equivalente de um coronel ou brigadeiro, que podia comandar
vários milhares de homens em campo, inclusive a cavalaria incorporada e as forças
aliadas. Não existia a patente de general porque os exércitos eram comandados
por um pretor, o segundo cargo civil mais alto de Roma, ou por um dos cônsules.
A competência de um comandante de exército era portanto questão de sorte, uma
vez que a bravura militar não era necessariamente um pré-requisito para o mais
alto posto civil; a capacidade de um comandante militar podia depender das
oportunidades de serviço activo anteriores na sua carreira. Contudo, com a
guerra iminente, um homem podia ser eleito ao consulado com base na sua reputação
militar, e a lei que restringia a posse repetida de cargo era temporariamente
suspensa, permitindo a reeleição de um homem que havia provado ser um general
capaz». In David Gibbins, Destruição de Cartago, Editora Record, 2013, ISBN
978-850-110-121-1.
Cortesia de ERecord/JDACT