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O
Passeio Público
«(…)
Trata-se do Passeio Público aberto a norte do Rossio, fora dos limites
da cidade velha, em terras de hortas que se estendiam pelo Valverde. Os
trabalhos foram iniciados em 1764, com traça do arquitecto Reinaldo Manuel, que
o rodeou de muros, como uma quinta monacal. A sua alameda de cerca de trezentos
metros de comprimento, plantada de freixos, enterrada no fundo dum vale, seria frequentada
pela burguesia citadina, mas não pela arraia miúda, mendigos ou vagabundos, que
não tinham entrada. Pouca gente, porém, lá se encontrava: os Portugueses não
eram grandes passeantes, observavam viajantes do fim do século, e os novos
hábitos pretendidos levariam muito tempo a desenvolver-se, três gerações… O
significado do Passeio Público no programa da nova cidade não deve, no
entanto, escapar-nos. Logradouro condicionado (e entalado, como se observava,
entre as forcas da Praça da Alegria e a Inquisição do Rossio…), ele oferecia
timidamente um contraponto ao sistema racional do pombalismo, como se
apresentasse, no quadro do seu Iluminismo, a face da natureza que nele
paradoxalmente seintegrava, em possível anúncio romântico.
Os
Prédios de Rendimento
Os três prospectos de Eugénio
Santos, que acompanhavam a terceira parte do memorial de Manuel Maia,
apresentavam três sugestões diferentes para os prédios da nova Baixa, ainda
dentro do princípio dos dois andares em que o velho engenheiro-mor insistia em
1756. Os dois primeiros desenhos propunham a alternativa de primeiros andares
com janelas sacadas (ou rasgadas) e segundos com janelas de peito (ou de
peitoril), ou de, em ambos os pisos, empregar janelas de sacada. O terceiro
desenho, mostrando também sacadas nos dois andares, protegia o piso térreo, das
lojas, com pórticos ou colunatas. Postos de parte por Pombal estes desenhos, na
altura de dar início às obras foi necessário apresentar um modelo, e este
aparece-nos com as assinaturas de Pombal, ainda com o nome de Carvalho Melo, e
de Eugénio Santos. Tendo obtido o condado de Oeiras em Junho de 1759, o desenho
em questão é certamente anterior a esta data, e posterior, senão paralelo, às
instruções de 12 de Junho de 1758.
A nova fachada comporta já quatro
pisos, o primeiro com janelas sacadas em continuidade, os segundo e terceiro
com janelas de peitoril, o quarto, de águas furtadas em colocação irregular; um
rés-do-chão de lojas acompanha o mesmo ritmo dos vãos. Destinado às ruas
principais da Lisboa baixa, este modelo determinaria outros dois, aplicados
a ruas de menor importância na mesma zona. Isso nos permite classificar as
fachadas da Baixa dentro duma tipologia constante, na qual se destacam três
espécies principais de imóveis, designáveis por tipos A, B e C. A estrutura
destas fachadas, o seu esquema de composição, é idêntico, mas os pormenores
variam de maneira que importa considerar porque traduzem uma hierarquia rígida
que se acorda com a hierarquia das próprias ruas a que são ordenadamente
destinados. É o tratamento de tais pormenores, sempre ao nível dos vãos e das
suas cantarias, que, com maior ou menor riqueza, em estreitos limites de
fantasia, determina o tipo da frontaria». In José Augusto França, A Reconstrução
de Lisboa e a Arquitectura Pombalina, Director da Publicação António Quadros, Instituto
de Cultura e Língua Portuguesa, Oficinas Gráficas da Minerva do Comércio, Instituto
Camões, 1986.
Cortesia de I. Camões/ JDACT