Cortesia
de wukipedia e jdact
«(…) Chelfordbury,
uma aldeia adormecida do Sussex, está envolvida no desporto emocionante da caça
ao fantasma. O Padre Negro de Fossaway, depois de um período de calma, voltou a
aparecer. A lenda conta que há setecentos anos Hubert de Redruth, pároco de
Chelfordbury; foi assassinado por ordem do 2º conde de Chelford. Desde então,
de-quando-em vez, o seu fantasma tem sido visto. Durante os últimos anos têm
corrido histórias horríveis de um ser invisível que emite gritos demoníacos,
mas o fantasma nunca fora visto até à semana passada. Fossaway Manor tem outras
histórias além de fantasmas. Há quatrocentos anos um grande tesouro de ouro
foi, de acordo com a lenda, escondido em algum lugar na
propriedade; até hoje ainda não foi descoberto, embora os sucessivos condes de
Chelford tenham procurado diligentemente o tesouro ancestral. O actual conde de
Chelford, que por acaso está noivo de miss Leslie Gine, a única irmã de mr.
Arthur Gine, o tabelião local, informou o nosso representante de não ter
dúvidas de que a aparição do Padre Negro era uma brincadeira de mau gosto da
autoria de algum jovem das redondezas. Harry fez menção de rasgar o papel, mas
pensou melhor e colocou o recorte debaixo do pisa-papéis. Aquela referência aos
brincalhões da aldeia era reconfortante, principalmente quando se aproximava o
cair da noite e ele necessitava de encorajamento. E isto porque lorde Chelford
acreditava no Padre Negro tão religiosamente quanto proclamava o seu cepticismo.
A sua mão inquieta dirigiu-se para a campainha. Mr. Richard já voltou? Não,
milorde. Lorde Chelford bateu na mesa com a palma da mão. Onde raios vai ele de
manhã?, perguntou, irritado. Thomas, muito prudentemente, fingiu não ouvir.
Dick Alford
estava sentado no alto de um pequeno morro e avistava os campos de Sussex, por
muitas milhas. Se virasse a cabeça poderia avistar toda a propriedade e os
telhados verdes e as cúpulas de Fossaway Manor, com os seus relvados extensos e
sebes bem cortadas. Nem os campos nem a casa o atraiam naquele momento. Os seus
olhos e a sua atenção estavam centrados na moça que caminhava rapidamente pelo
caminho que conduzia ao local onde ele se encontrava sentado. Tom, o espião!,
disse ela com ar de reprovação. Ela não era tão alta como a média das moças
inglesas, mas a magreza dava-lhe altura e os seus movimentos suaves davam-lhe
mais força do que a sua figura frágil sugeria. O rosto delicadamente modelado
tinha o requinte subtil da classe. Pequena, de mãos e pés delicados, uma cabeça
esguia, olhos de um cinzento profundo e uma boca vermelha que sorria
facilmente, Leslie Gine mesmo mal vestida seria sem dúvida uma bela mulher. Ali
estava ela agora em pé, com o pequeno chapéu de montar caído nas costas, vestindo
uma roupa preta e uma camisa branca. Dick
Alford, sentado no alto da colina, mastigava um pedaço de erva entre os dentes
enquanto a observava com ar de aprovação. Tens andado a montar, Leslie? Sim,
disse ela gravemente, e acrescentou: um cavalo. Ele olhou à volta
inocentemente. E onde está o feliz animal?, perguntou. Ela olhou-o desconfiada,
mas nem um músculo do rosto queimado se mexeu. Desmontei para apanhar flores
silvestres e o animal fugiu. V o viu, acusou ela. Vi qualquer coisa que se
parecia com um cavalo em direcção a Willow House, admitiu. Até julguei que te
tivesse derrubado.
Ela acenou com a
cabeça. Só por isso devias ir à procura dele. Vai, eu espero aqui, disse
sentando-se e, quando ele se levantou, acrescentou num resmungo: de qualquer
maneira, já tencionava pedir-te. Quando te vi, pensei: ali está um preguiçoso a
precisar de exercício! As futuras cunhadas têm os seus privilégios. Ele fez uma
careta ao ouvir aquelas palavras. Ela deve ter reparado na tristeza do seu
rosto, pois colocou-lhe a mão no braço e disse: um dos empregados pode ir atrás
dele, Dick. Ele é um porco tão faminto que já deve ir a caminho dos estábulos.
Não, não estou a referir-me ao empregado. Sente-se, quero falar-lhe. Ela subiu
o pequeno morro e sentou-se no local onde ele estivera. Richard Alford, não me
parece que esteja satisfeito com a perspectiva de eu vir a ser a senhora de
Fossaway House». In Edgar Wallace, O Padre Negro, 1926/1927, Publicações
Europa-América, 1985, ISBN 978-972-101-690-3.
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