quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Novas Cartas Portuguesas. Maria Barreno, Maria Horta, Maria Costa. «… o demónio copulando com grande número de mulheres, e que a sua técnica era a de se aproximar das mulheres bonitas pela frente e das feias por trás»

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Ralde (Maria de la)
Bonita bruxa presa com a idade de dezoito anos. Começara a praticar a sua arte aos dez anos e foi levada ao Sabbat pela primeira vez pelo bruxo Marissans. Depois da morte deste, o próprio diabo a levou à Assembleia, onde, segundo o depoimento de Marie, tomou a forma duma árvore..., mas aparecendo às vezes com a forma dum homem vulgar, ora encarnado, ora preto. Marie nunca beijou o diabo mas viu como isso se fazia. Acrescentou que gostava muito do Sabbat porque parecia mesmo um casamento. As bruxas ouviam música tão suave que era como se estivessem no céu..., e o diabo convenceu-as de que o fogo que arde eternamente não era real, mas artificial.

Madre Abadessa, aqui me mandam de casa dos meus pais.

Não houve pão para nós à mesa dos homens.
Nosso corpo de trabalho aos senhores alugamos.
Do dinheiro dos senhores comeremos.
No esterco que sobrar dormiremos.

Madre Abadessa, e o que seremos com corpo
E sem cavaleiro?

Terra estéril, montada
Das suas lutas vazias, mão
De obra barata, onde alugares o teu corpo
Dirão porque não, tua força? e onde
Alugares tua força, dirão porque não
O teu corpo? Nossa paixão é o pão, nosso
Exercício é o mundo, nosso objecto são
Os senhores de trabalhadoras e prostitutas.

Maillat (Louise)
Jovem demoníaca que viveu em 1598. Tendo perdido o uso dos seus membros foi levada, para exorcismo, à Igreja do Sagrado Redentor. Verificou-se que ela estava possessa de cinco demónios chamados lobo, gato, cão, boneca e grifo. Dois demónios saíram-lhe pelo nariz sob a forma de bolas do tamanho de um punho, uma vermelha como o fogo e a outra, o gato, completamente preta. Os outros demónios deixaram-na menos violentamente. Uma vez fora dela, os demónios giraram à volta do fogo e desapareceram. Descobriu-se que Françoise Secrétain fizera engolir os demónios pela rapariga escondendo-os numa côdea de pão cor de estrume.

Mariagrane (Marie)
Bruxa que disse ter visto muitas vezes o demónio copulando com grande número de mulheres, e que a sua técnica era a de se aproximar das mulheres bonitas pela frente e das feias por trás.

Madre Abadessa, aqui me mandam de casa dos meus pais.

Não houve pão para nós à mesa dos homens.
Se nosso corpo forte no cavaleiro apaixonamos
Do pão do diabo comeremos.
Em casa do diabo acordaremos.

Madre Superiora, e o que seremos com corpo
E com cavaleiro?

Terra de ti, montada de suas lutas
Vazias, mãos de obreira
Perdidas, onde lhe cederes teu corpo
Dirão teu corpo, nossa lonjura. Nossa
Paixão será cavaleiro, nosso exercício
O corpo, nosso objecto o mundo.
Seremos montadas de cavaleiro».

In Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho Costa, Novas Cartas Portuguesas, 1972, edição anotada, Publicações dom Quixote, 1998, 2010, ISBN 978-972-204-011-2.

Cortesia PdQuixote/JDACT