Na brisa da tarde a gaivota voa sobre o mar cintilante. Paz.
«Sinto o caminhar mais leve, mais sereno, porque do brilho nos teus
olhos saem esmeraldas cintilantes. O bater dos passos confunde-se com a voz das
ondas e o meu corpo eleva-se com a força da maré. E porque és uma dádiva de
Deus, és o mais belo de todos. Vestes-te de verde, hoje de azul, e, quando
estás triste, de cinzento.
Encontramo-nos tantas vezes, e falamos sempre de outros tempos. Sei
quando estás zangado, porque a tua força me domina. Aproximo-me mais e deixo os
meus pés fincados na areia, porque não posso entrar dentro de ti.
Quantas lágrimas desfiz, molhando o rosto com o teu bálsamo salgado, e
este encontro de hoje, contigo, ultrapassa as palavras de todos os amigos.
Um amor antigo que ganhou raízes profundas e me dá Paz nas horas de
desespero. O desfile das gaivotas, voando sobre a minha cabeça, compõe o cenário
de uma tarde primaveril neste Inverno cantado à beira-mar!» In Lisa
Flores, Ericeira, 1993.
In Lisa Flores, 1999, Cartas a Ninguém, ilustração de Ingrid B.
Martins, colecção Outras Obras, Nova Vega, 2004, ISBN 972-699-785-2.
Cortesia de Nova Vega/JDACT