sexta-feira, 5 de abril de 2013

A Primeira Rainha de Portugal. Dona Teresa. Prefácio de G. Oliveira Martins. Marsilio Cassotti. «A Rainha Teresa consegue enfrentar, com sucesso, os ataques mouros nas terras fronteiriças do Sul e nas proximidades da linha do Tejo»

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«Temos ainda de salientar a tendência para um afastamento progressivo entre os interesses de galegos e de portugueses, que o conde Henrique desde cedo compreendeu. De facto, quer a oposição entre os barões portucalenses e a nobreza da Galiza, quer o confronto entre Braga e Santiago de Compostela foram cavando um fosso entre as duas realidades. Ao longo da biografia que agora se apresenta, assistimos, pois, a uma muito circunstanciada análise de acontecimentos que demonstram a permanente afirmação de D. Teresa como uma personalidade marcante com evidente ambição no seio do Reino de Leão e Castela, em especial perante sua irmã D.Urraca. A jovem Rainha tem bem presente que a posição de Afonso Raimundes poderia vir a ser ocupada por seu filho Afonso Henriques. Daí a persistente defesa de um lugar proeminente na linha de sucessão de seu pai Afonso VI.
D. Teresa e D. Urraca, ambas eram inteligentes, orgulhosas, empreendedoras, valentes e astutas, são duas irmãs separadas, que os interesses políticos afastam, e é muito estimulante a análise psicológica de um permanente jogo de aproximação e afastamento que acompanha o desenho biográfico que iremos ler. Por um lado, temos a afirmação do projecto defendido pelo conde Henrique, de progressiva autonomização dos condados de Portucale e de Coimbra, por outro, D. Teresa deseja salvaguardar a sua própria posição em concorrência directa com sua irmã, a Rainha de Leão e Castela. E o certo é que estes dois projectos se revelam contraditórios, a médio prazo, uma vez que a independência de Portugal era incompatível com a preservação de um lugar relevante no seio do Reino de Leão e Castela.
No entanto, D. Teresa alcança algo de único no concerto ibérico, conseguindo superar desde a morte do marido grandes desafios, graças à sua capacidade, apenas com a ajuda de nobres, ricos e poderosos, influentes no Condado Portucalense mas com escasso peso na corte régia de Leão. E só essa determinação é que permite bater o pé ao prelado de Santiago de Compostela, Diego Gelmírez, apostado em fazer reduzir a importância de Braga em benefício da sede compostelana. Por outro lado, a Rainha Teresa consegue enfrentar, com sucesso, os ataques mouros nas terras fronteiriças do Sul e nas proximidades da linha do Tejo. Apesar de tudo, há vicissitudes como a designação de Paio Mendes como arcebispo de Braga em 1119, que parecem evidenciar o crescimento do poder de Urraca nos assuntos portugueses e da prática debilidade da sua irmã Teresa, na expressão de Torquato Sousa Soares». In Marsilio Cassotti, D. Teresa, A Primeira Rainha de Portugal, Prefácio de G. Oliveira Martins, Attilio Locatelli, A Esfera dos Livros, 2008, ISBN 978-989-626-119-1.

Cortesia da Esfera dos Livros/JDACT