sábado, 13 de abril de 2013

Linda Inês. O Episódio Inesiano n’ Os Lusíadas. Luís de Camões. «Portugal na segunda metade do século XV mantinha-se equilibrado política e socialmente, havia já dois séculos. Apesar de guerras civis, lutas com Leão e Castela e ainda as conflituosas conquistas aos mouros…»

Mosteiro de Santa Clara “a Velha”. Cortesia de augustogonçalves
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Os Amores de Pedro I e D. Inês de Castro
Os factos históricos
«Baseando-nos nos dados disponíveis, procurámos dar neste texto a versão mais provável deste caso de amor, paixão, morte e vingança, que envolveu realezas medievais peninsulares, e foi depois tema de lendas, poemas e outras obras literárias ao longo dos séculos, e também tema de peças de teatro, óperas, bailados e até filmes. Apoiámo-nos nas versões dos cronistas Fernão Lopes, Rui de Pina e Lopez Ayala, transcrevendo muitas vezes algumas das suas frases, actualizando-lhe as palavras, a fim de dar maior fidelidade ao texto. Fazemos ao mesmo tempo uma análise do contexto em que toda a trama se desenvolve, buscando no triste e conturbado reinado de Pedro I de Castela, contemporâneo destes amores, as razões que conduziram à terrível decisão política do Governo Português da época de mandar executar D. Inês de Castro.

Portugal no século XIV
A história da nossa Idade Média é difícil de escrever, impossível de aprofundar por falta de documentos, enquanto que a distância de séculos e as diferenças entre os nossos conceitos e as maneiras de ver medievais embaraçam as nossas análises e toldam-nos a visão desses acontecimentos remotos. Era uma época em que todos, desde o rei ao mais mesquinho plebeu, se regiam por ideias e concepções diversas das nossas, algumas quase estranhas, e havia hábitos que hoje nos parecem bizarros. À fé religiosa cheia de fervor desses tempos, contrapunha-se uma liberdade de costumes e um largo número de superstições, que hoje nos intrigam e espantam.
Havia nas cortes dos reis astrólogos bem reputados que determinavam quais os melhores dias para decidir negócios de Estado e outros assuntos, até as datas mais propícias para casamentos reais. Bruxas e feitiçarias eram dados aceites, e acreditava-se que as epidemias, as pestilências, eram castigos divinos destinados a punir duramente os pecados dos povos. A Terra era tida pela grande maioria das gentes como incontestavelmente plana, e seria à volta dela que o Sol e as estrelas rodopiavam nos céus. Quem se atrevesse a contradizer um facto tão evidente era, pelo menos, tolo.
O rei governava como se tivesse um mandato de Deus para o fazer. Uma tal atitude não era tida pelos povos como uma expressão de formalismo tradicional, mas tratava-se sim de uma realidade indiscutível. Em documentos oficiais Afonso IV o pai do infante Pedro (infante e infanta eram os títulos de filhos e filhas dos reis peninsulares; em Portugal, só no seculo XV se começou a chamar príncipe ao infante herdeiro do trono; foi Afonso V o primeiro infante da Casa Real Portuguesa a usar o título de príncipe) e um dos protagonistas desta história, é tratado como muito alto, nobre e poderoso senhor rei, o que dá ideia da posição que ele assumia como monarca.
Portugal na segunda metade do século XV mantinha-se equilibrado política e socialmente, havia já dois séculos. Apesar de guerras civis, lutas com Leão e Castela e ainda as conflituosas conquistas aos mouros, era um país com a estabilidade possível na época, um país que se bastava a si próprio, considerado um aliado vantajoso por qualquer um dos outros reinos peninsulares. A corte era muito civilizada e os reis tinham uma boa tradição, tanto no governo como a legislar. O avô do infante Pedro, o herói deste caso amoroso, fora o rei Dinis, um monarca inteligente e culto que, para lá de praticar uma excelente governação, fora poeta de mérito nos seus lazeres.
A esposa deste rei Dinis, D. Isabel, uma princesa de Aragão, devido às suas virtudes e até milagres feitos em vida e depois de morta, foi considerada Santa pela Igreja Católica. O seu corpo repousa hoje, incorrupto, no Convento de Santa Clara em Coimbra, cidade de que é padroeira e onde continua a ser venerada. Politicamente Portugal, no século XIV, já dispunha de um sistema judicial eficaz e bem organizado para a época, com juízes isentos e um corpo de leis, embora as decisões mais sérias viessem sempre a cair sobre os ombros do rei, que em última instância seria juiz supremo do reino». In Luís de Camões, Linda Inês, O Episódio Inesiano n’ Os Lusíadas, História de um Amor Fatídico, Introdução e Paráfrase de Jorge Tavares, Mel Editores, 2009, ISBN 978-989-635-069-7.


Cortesia de Mel Editores/JDACT