Pranto pelo infante dom Pedro das sete partidas
Nunca choraremos
bastante nem com pranto
assaz amargo e forte
aquele que fundou glória
e grandeza
e recebeu em paga
insulto e morte.
In Sophia de Mello Breyner Andresen, 1961.
Vida e Obra
«O Infante Pedro é, para muitos historiadores, uma personalidade axial
da história portuguesa (ponto de vista de Duarte Leite, José de Bragança,
Júlio Gonçalves, Veiga Simões, Magalhães Godinho, Baquero Moreno, Marques da
Silva e outros). Personalidade axial mas mal tratada: caído em desgraça, a
sua memória foi deliberadamente apagada ou distorcida. Não recebeu só insulto e morte, recebeu também esquecimento.
Só nos séculos XIX e XX a sua figura e actuação política foram reavaliadas e
historicamente valorizadas, ainda que continue a ser, por vezes, julgado à luz de sectarismos ineptos (o infante
Pedro é a primeira figura histórica portuguesa que desperta, se não paixões,
pelo menos posicionamentos controversos e contraditórios em relação ao alcance
da sua acção política; impossibilitadores de um julgamento justo. O infante,
quarto filho do rei João I e da rainha D. Filipa de Lencastre, nasceu em Lisboa,
a 9 de Dezembro de 1392. Da sua
educação sabemos que foi muito dedicado ao estudo desde a infância e versado em
ciências e letras. Participou nos preparativos para a conquista de Ceuta, tendo
presidido ao levantamento das tropas na região de Lisboa e Sul do país, e
comandou um dos corpos militares que conquistaram a referida cidade em 1415. Nesta data foi nomeado duque de
Coimbra, tendo-lhe sido atribuídas terras e povoações na região do Baixo
Mondego e a faixa litoral até Aveiro.
Entre 1425 e 1428 viajou pela Europa, visitando os grandes centros políticos,
económicos e culturais de então, Londres, Bruges, Veneza, Roma, a Alemanha, a
Hungria e a Espanha. Pessoa esclarecida e atenta às necessidades do país,
aproveitou o contacto internacional para se actualizar, dinamizar as relações
económicas com a Flandres, recolher informações e propor soluções inovadoras
para os problemas nacionais. Neste sentido, escreveu ao irmão, o futuro rei
Duarte, uma notável carta, a carta de Bruges (1526), em que
sugere um conjunto de reformas para solucionar os problemas da sociedade
portuguesa de então. Em Veneza, o maior centro económico do século XV, visitou
os arsenais, informou-se sobre o comércio oriental, adquiriu o livro de Marco
Pólo, com notícias da China e das suas riquezas, e provavelmente um mapa-mundi com o traçado das rotas
comerciais com o Oriente. Destas suas viagens ficou-lhe o cognome de Infante das Sete Partidas.
Entre 1429 e 1439 fixou-se no seu ducado, dedicando-se ao desenvolvimento
económico e social das terras e habitantes. Durante este período impulsionou a
tradução para português de diversas obras de autores latinos, tendo ele próprio
traduzido e adaptado algumas e finalizou, com a colaboração de frei João
Verba, a composição do livro Da
Virtuosa Benfeitoria. Esta obra é uma importante por dois motivos:
- O infante Pedro foi não só o primeiro autor de prosa doutrinal em língua portuguesa como também um dos criadores da própria língua, pela maneira como escreve e pelos vocábulos novos que utiliza, de origem latina e grega.
Por exemplo, é o
primeiro autor a usar a palavra poesia,
dando dela uma definição magistral, poesia é mais sabor do que saber. Como
homem de cultura há ainda a mencionar três outros aspectos:
- o impulso que deu, quando Regente, à continuação das obras do Mosteiro da Batalha;
- a chamada dos primeiros humanistas italianos a Portugal, como Mateus Pisano, para servir de professor ao futuro rei;
- o apoio à escultura e pintura, com destaque para os pintores Afonso Gonçalves e João Gonçalves, este último, autor das pinturas do claustro da Abadia de Florença.
Em 1436, numa intervenção fortemente critica no Conselho Real, bem
demonstrativa da sua lucidez e visão política, tentou contrariar a conquista de
Tânger e a expansão em Marrocos, considerando-a como ruinosa para os recursos
do país. Já antes, na Carta de Bruges, analisara a questão
de Ceuta em termos de muy bom
sumidouro de gente da vossa terra e de armas e de dinheiro. Mais tarde,
como Regente, não abandonará Ceuta, mas também não dará qualquer seguimento a
conquistas em Marrocos. Na sequência da morte prematura do rei Duarte I, 1438, e sendo menor o futuro rei Afonso
V, a rainha D. Leonor assumiu as funções de regente do reino com o apoio da grande
nobreza senhorial. Mas esta regência foi contestada particularmente pelos povos
dos concelhos, com Lisboa e o Porto à frente do movimento. Gerou-se um clima de
tensão política de que resultou o infante
Pedro ter sido aclamado Regente do reino nas cortes de Lisboa de 1439 com o apoio expresso dos concelhos
e em detrimento dos interesses do partido da grande nobreza que apoiava a
rainha viúva». In José Ermitão, O Infante Pedro das Sete Partidas, Wikipédia.
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